Não coloquei neste material O PRANTO DE MARIA
PARDA e escolas já trabalhadas para a revisão da UEPA
MATERIAL PADRÃO PARA A REVISÃO UFPA COM DETALHAMENTOS IMPORTANTES, MAS AS AULAS DE REVISÃO DESTA SEMANA MOSTRARÃO O CAMINHO QUE ACREDITO....
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BOM ESTUDO!!!
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A PATA DA GAZELA – JOSÉ DE ALENCAR
O romance A Pata da Gazela foi escrito baseado
no conto A Cinderela. O autor
aproveita-se do enredo, no qual uma jovem, ao entrar apressada dentro de uma
carruagem, perde um par de seu sapato, que é encontrado por um rapaz.
Inquietado pelo calçado, ele sai à procura da dona do objeto, não desistindo
até encontrá-la. A partir daí, o romancista desenvolve seu enredo, um texto
irônico e crítico sobre a sociedade brasileira do século XIX. O livro é a
tentativa de José de Alencar de mostrar como o amor deve ser, não pela plástica
como o de Horácio, mas pela alma como o de Leopoldo.
Amélia – aspectos
importantes
Essas e várias outras atitudes da moça Amélia revelam facetas pouco
nobres do seu caráter da heroína do romance, considerando o idealismo romântico
na construção das personagens femininas. A moça de boa família, pura e bela não
deve ser vista como um ser idealizado, um anjo inocente. Amélia é uma mulher
sagaz e, na dança citadina do século XIX reduzida no romance, soube
movimentar-se para atingir seus objetivos. Lembremos ainda duas ações da moça
que a afastam do modelo de mulher ingênua e angelical: a sua empresa em relação
a atenção de Horácio e suas idas à casa de D. Clementina.
O pai de Amélia e o
pensamento burguês
O Sr. Pereira Sales, ao receber a carta do pretendente de sua filha,
preocupa-se, conversa com a esposa e depois com a filha. O que se depreende
desses movimentos das personagens? Quando dialoga com a filha, o pai faz as
seguintes observações sobre Horácio: “É
um excelente moço; tem alguma coisa de seu; mas anda em certa roda que não me
agrada”(p. 56) A roda de moços da moda não agrada ao chefe da família. Por
quê? Horácio “tem alguma coisa de seu”, está inserido na roda da burguesia, mas
mesmo assim há a preocupação de Pereira Sales. Como já foi observado, o
pretendente da mão ou dos pezinhos de Amélia vivia no movimento da moda, não se
dedicava ao trabalho com o capital e isso é algo que fere a organização da
sociedade burguesa
Mais tarde em sua alcova, enquanto desfazia o
penteado, soltando os lindos anéis do cabelo castanho, Amélia recordou-se das
palavras apaixonadas que ouvira de Leopoldo na véspera, e comparou-as com a
queixas de Horácio. A linguagem do primeiro tinha a eloqüência da paixão;
parecia vir do íntimo, do mais profundo coração. A linguagem do segundo tinha a
graça da sedução: era a vibração passageira das cordas d`alma.
O PRIMO BASÍLIO
EÇA DE QUEIRÓS
REALISMO
O
pano de fundo da narrativa de O Primo
Basílio
é um caso de adultério. Já no primeiro capítulo, o autor lança as sementes do
conflito que dá
pretexto
para o livro. Descreve o marido que viaja,
; a
esposa que descobre que
o
primo que revisita a cidade e as lembranças
que
a notícia evoca. Introduz a criada Juliana,
ressentida
e frustrada, que terá um papel decisivo
no
desfecho trágico do romance.
O
autor apresenta as
figuras
secundárias, enfocadas durante breves
visitas
dominicais à casa de Luísa e Jorge. A relação
amorosa
clandestina mantida por Luísa e Basílio
é
descoberta pela criada que, de posse de uma
carta
dos amantes, chantageia a patroa. Abandonada
pelo
amante, que foge para Paris, Luísa não
suporta
a tensão e morre.
Os personagens secundários completam o
quadro social lisboeta. O Conselheiro Acácio, freqüentador
do círculo próximo de Luísa, um dos
mais citados e conhecidos personagens de Eça, é o intelectual vazio. Sua habilidade em dizer o óbviocom
empáfia deu origem à expressão "verdades acacianas".
Joana é a cozinheira que enfrenta Juliana por
dedicação à patroa; Dona Felicidade é a de "beatice
parva de temperamento irritado". E também há,
"às vezes, quando calha, um pobre bom rapaz"
– Eça refere-se a Sebastião, que se propõe a recuperar
as cartas tomadas pela criada. Na carta a Teófilo
Braga, Eça assegura: "Eu conheço 20 grupos
assim formados. Uma sociedade sobre essas falsas bases não está na verdade: atacá-las é um dever".
PROSTITUIÇÃO INFANTIL
Olavo Bilac
Mergulhamos nesta crônica num olhar para a mulher ,
mas na fase infantil e sendo explorada pela estupidez e bestialidade através da
prostituição.
O trecho
“ vendendo flores e aprendendo a vender beijos” traduz a idéia do texto com uma poesia que depois
descortinará a crueldade desta sociedade com crianças de 7 a 8 anos.
O
texto destaca também a idéia da menina
que tem que posar de mulher para se prostituir sob a ameaça que vem de sua
própria casa. E por outro lado o texto deixa evidente que a “ mulher “ não
passa de uma menina “ pediu-me mais duzentos reis ....esses , para doces “
‘ todo nós temos mais o que fazer “ singulariza e simplifica bem o discurso da sociedade
diante da problemática social da prostituição infantil. E a morte é colocada
como um ponto final único para o problema.
Enfim, todos nós temos mais que fazer. E talvez a sorte
melhor que se possa desejar hoje cm dia a uma criança pobre — seja uma boa
morte, uma dessas generosas mortes providenciais, que valem mais que todas as
esmolas, todas as bênçãos, todos os augúrios felizes e… toda a comiseração dos
cronistas.
Olavo Bilac
Gazeta de Notícias 14/8/1894
QUE BOM MARIDO
Marques de Carvalho
O texto inicia com a
descrição do personagem Bonifácio revelando que
ele é velho gordo e decrépito, puído das orgias e vermelho (cor de
ginja), fruta excelente para licor, mas aqui associado ao rosto vermelho pela
obesidade. Temos mais um personagem de aparência horrenda, vitima das
consequências de uma vida desregrada.
A outra personagem é assim apresentada: Ela
, Elvira , jovem, faceira, risonha, olhos marotos, ágil, malemolente se contrapondo ao velho que é gordo. Temos
também a referência ao mundo animal: “duas
filas de dentes mais alvos do que os de um cão da Terra-Nova” – referencia
ao mundo animal (zoomorfismo) - Cães Terra-Nova - uma raça de cães natural
do Canadá, descendente geneticamente dos mastiffs. Sua personalidade, todavia,
é diferente. O terra-nova pode ser considerado o cão mais paciente, tolerante e
tranquilo de todos. Descrito como resignado, é um bom cão de companhia, já que gosta de participar das
atividades familiares e aprecia a companhia humana.
• A
expressão “Flexível como haste da angélica”- explica-se porque essa
planta é indicada para desconforto digestivo como sensação de enfartamento e
flatulência, males associados a velhice.
Elvira trabalha e tem certa
independência financeira, pois para usufruir de algumas regalias é necessário
somar o que ela ganha com o salario do marido, ou seja, o marido não dá conta
de todos os gastos.
Elvira não dava importância aos
assédios, mas ficava na janela justamente nos momentos em que o marido estava
distraído jogando com a vizinhança.
Observa-se a ironia em pobre rapaz sem ventura , ora o Jacyntho era o
Leão, metáfora do rei das selvas, o forte o dominador em oposição ao velho
cervo, Bonifácio.
O Leão apaixona-se por Elvira poucos dias depois do casamento dela.
“não ligava muita importância”
• “Jacytho é o
leão, e o leão, como outros felinos, é um caçador oportunista”, diz o
biólogo Carlos C. Alberts, da UNESP de Assis, interior de São Paulo. Significa
que estuda o terreno antes de atacar, é um estrategista. Tinha convicção de que
presa seria abatida – Isso no remete ao Darwinismo “na natureza só sobrevivem
os mais fortes”. O autor se utiliza de um aforismo popular para provar a teoria
A mulatinha faz charme sedutor – ela
curva a cabeça em direção ao peito ele coloca o dedo indicador na boca e
cala-se. Jacynto compra-lhe resposta de forma igualmente sedutora.
• Perceba
os dissimulamentos e os disfarces da freguesa.
•
Enquanto o rapaz já tinha toda a estratégia traçada – a carta já estava escrita
esperando por uma oportunidade
Temos ao final uma inversão - o velho
puído se transforma em Leão – arma uma estratégia, bate, persegue e imobiliza a
presa.
Ele vira fera e quando a presa tá no chão ele ...despedindo olhares
terríveis para todos os lados, tal como as feras quando com suas presas
abatidas quer certificar-se de que não serão incomodas.
Mais uma vez o autor nos diz que as aparências enganam. A inteligência está com
quem se julga mais fraco.
A QUEDA DE UM ANJO
CAMILO CASTELO BRANCO
Calisto Elói,
morgado da Agra de Freimas, vive em Caçarelhos com sua mulher, D. Teodora de
Figueiroa, e com os seus livros clássicos, cuja leitura é o seu entretenimento
preferido. Tendo sido eleito deputado, vai para Lisboa, disposto a lutar contra
a corrupção dos costumes. Faz furor no parlamento com os seus discursos
conservadores, apoiados na sua cultura livresca (mostrando aí o domínio da
oratória), causando espantadas reacções. Defende principalmente o bom uso da
língua portuguesa e combate o luxo e os teatros.
Ao longo da narrativa, na sua defesa da moral dos bons costumes antigos, a sua figura vai evoluindo até atingir um clímax. Logo após, inicia-se a queda. Esta consiste essencialmente na transformação total do herói, que adquire os costumes modernos que tanto condenava. Inicia uma relação ilícita com D. Ifigénia Ponce de Leão, com quem acaba por viver maritalmente e de quem tem dois filhos. Por seu lado, D. Teodora, vai depois também viver com seu primo, Lopo de Gamboa, de quem tem um filho.
A ironia camiliana
Permite uma grande imobilidade no interior da narrativa. O narrador participa ou afasta-se, exagera a ironia ou torna-a subtil, hiperboliza situações tornando-as cómicas, destaca o que lhe interessa, enfim, domina o universo ficcional. Para tal, utiliza:
. auctorictas – Calisto Elói tem uma cultura livresca clássica e acredita piamente no que dizem os livros, mesmo que estes tenham já quase 200 anos e estejam desfasados da realidade (ex.: água da fonte e a contradição com a realidade de Lisboa, que resulta num cómico constante).
. Autocrítica – por vezes Camilo ri-se dos seus próprios temas e artifícios que usa.
. Toponímia e onomástica (nomes próprios)- tem por vezes efeitos cómicos (Calisto Elói de Silos e Benavides de Barbuda; Ifigénia Ponce de Leão; o próprio título A Queda de um Anjo).
Nesta novela há vários níveis onde se processa a crítica social. Num 1º plano, temos a crítica da vida portuguesa da época da Regeneração. É pelos olhos de Calisto que o narrador nos mostra a miséria moral e intelectual do novo mundo político lisboeta, em que o liberalismo produz má fé e muito oportunismo. É de salientar que no 1º plano o narrador (depois de nos fazer identificar com Calisto e o mostrar a cometer os erros que condenara) preocupa-se em manter a nossa simpatia pelo anjo que desceu ao chão, tornando-nos assim cúmplices de Calisto. Durante a transformação de Calisto, dá-se o 2º plano da crítica – a uma dada concepção de literatura e da sua função na sociedade moderna. Nesta época, o seu público é conhecedor dos folhetins e romances franceses. Por isso ele não tem qualquer ilusão sobre o papel da literatura na correcção dos vícios – apenas na manutenção dum bom padrão linguístico.
ESAÚ E JACÓ - MACHADO DE ASSIS
Ao longo da narrativa, na sua defesa da moral dos bons costumes antigos, a sua figura vai evoluindo até atingir um clímax. Logo após, inicia-se a queda. Esta consiste essencialmente na transformação total do herói, que adquire os costumes modernos que tanto condenava. Inicia uma relação ilícita com D. Ifigénia Ponce de Leão, com quem acaba por viver maritalmente e de quem tem dois filhos. Por seu lado, D. Teodora, vai depois também viver com seu primo, Lopo de Gamboa, de quem tem um filho.
A ironia camiliana
Permite uma grande imobilidade no interior da narrativa. O narrador participa ou afasta-se, exagera a ironia ou torna-a subtil, hiperboliza situações tornando-as cómicas, destaca o que lhe interessa, enfim, domina o universo ficcional. Para tal, utiliza:
. auctorictas – Calisto Elói tem uma cultura livresca clássica e acredita piamente no que dizem os livros, mesmo que estes tenham já quase 200 anos e estejam desfasados da realidade (ex.: água da fonte e a contradição com a realidade de Lisboa, que resulta num cómico constante).
. Autocrítica – por vezes Camilo ri-se dos seus próprios temas e artifícios que usa.
. Toponímia e onomástica (nomes próprios)- tem por vezes efeitos cómicos (Calisto Elói de Silos e Benavides de Barbuda; Ifigénia Ponce de Leão; o próprio título A Queda de um Anjo).
Nesta novela há vários níveis onde se processa a crítica social. Num 1º plano, temos a crítica da vida portuguesa da época da Regeneração. É pelos olhos de Calisto que o narrador nos mostra a miséria moral e intelectual do novo mundo político lisboeta, em que o liberalismo produz má fé e muito oportunismo. É de salientar que no 1º plano o narrador (depois de nos fazer identificar com Calisto e o mostrar a cometer os erros que condenara) preocupa-se em manter a nossa simpatia pelo anjo que desceu ao chão, tornando-nos assim cúmplices de Calisto. Durante a transformação de Calisto, dá-se o 2º plano da crítica – a uma dada concepção de literatura e da sua função na sociedade moderna. Nesta época, o seu público é conhecedor dos folhetins e romances franceses. Por isso ele não tem qualquer ilusão sobre o papel da literatura na correcção dos vícios – apenas na manutenção dum bom padrão linguístico.
ESAÚ E JACÓ - MACHADO DE ASSIS
Esaú e Jacó é a penúltima obra
de Machado de Assis, uma obra-prima de realismo lírico, com as tintas
descritivas da própria vida da cidade, temperadas pela ousadia da construção do
foco narrativo.
Enquanto as outras obras do autor têm um maquinário evidente, essa, por sua vez, exige uma apuração mais detalhada que, se bem executada, revela um Machado no auge do domínio de sua escrita. Autor atento aos acontecimentos e ao ser humano, demonstra em Esaú e Jacó sua qualidade de historiador ao ressaltar, a partir de dois irmãos, a disputa política entre monarquistas e republicanos: Paulo era republicano e Pedro, monarquista. Em sua obra, a história é narrada, privilegiando-se tanto os aspectos macros quanto aqueles que dizem respeito à cotidianidade da cultura.
O livro conta a história de dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que brigam desde o ventre materno. Unidos pelo amor à mãe e rivais pelo coração da jovem Flora, Pedro (de temperamento mais cauteloso, estudante de Direito) e Paulo (mais arrojado, estudante de Medicina) se põem em campos opostos inclusive na política. A simetria absoluta dos gêmeos e a contraposição única de seus temperamentos e opiniões são os elementos que constroem a narrativa.
O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis, à história de Rebeca, que privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo, do romance de Machado, não tem causa explícita, daí a denominação que Machado inicialmente imaginou para o romance Ab ovo (desde o ovo).
Enquanto as outras obras do autor têm um maquinário evidente, essa, por sua vez, exige uma apuração mais detalhada que, se bem executada, revela um Machado no auge do domínio de sua escrita. Autor atento aos acontecimentos e ao ser humano, demonstra em Esaú e Jacó sua qualidade de historiador ao ressaltar, a partir de dois irmãos, a disputa política entre monarquistas e republicanos: Paulo era republicano e Pedro, monarquista. Em sua obra, a história é narrada, privilegiando-se tanto os aspectos macros quanto aqueles que dizem respeito à cotidianidade da cultura.
O livro conta a história de dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que brigam desde o ventre materno. Unidos pelo amor à mãe e rivais pelo coração da jovem Flora, Pedro (de temperamento mais cauteloso, estudante de Direito) e Paulo (mais arrojado, estudante de Medicina) se põem em campos opostos inclusive na política. A simetria absoluta dos gêmeos e a contraposição única de seus temperamentos e opiniões são os elementos que constroem a narrativa.
O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis, à história de Rebeca, que privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo, do romance de Machado, não tem causa explícita, daí a denominação que Machado inicialmente imaginou para o romance Ab ovo (desde o ovo).
ALBERTO
CAEIRO – HETERÔNIMO
Alberto
Caeiro é outro heterônimo de Fernando Pessoa. Segundo seu criador, nasceu em
Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem
educação quase alguma, só instrução primária, morreram-lhe cedo o pai e a mãe,
e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma
tia velha, tia-avó. Morreu tuberculoso.
Pessoa cria
uma biografia de Caeiro que se encaixa com perfeição em sua poesia. Ele escreve
com a linguagem simples e o vocabulário limitado de um poeta camponês pouco
ilustrado. Antimetafísico, pratica o realismo sensorial, numa atitude de
rejeição às elucubrações do Simbolismo. Afirma que "pensar é estar doente dos olhos", e quer apenas sentir a natureza. Em perfeita consonância com sua busca de simplicidade, escreve versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rimas). Agnóstico, escreve um poema ousado sobre o menino Jesus. Destituído de santidade, Cristo é representado como criança normal: espontânea, levada, brincalhona e alegre. Nisso está a religiosidade de Caeiro.
Há dois Caeiro, o poeta e o pensador, sendo o primeiro que em teoria se desdobra no segundo. Segundo a imagem que dá dele próprio, vive de impressões, sobretudo visuais, e goza em cada impressão o seu conteúdo original. Não admite a realidade dos números e não quer saber de passado nem de futuro, pois recordar, é atraiçoar a Natureza.
No Poema dum Guardador de Rebanho se declara pastor por metáfora. O andar constante e sem destino, absorvido pelo espetáculo da inesgotável variedade das coisas. Os seus pensamentos não passam de sensações. Limita-se a existir, com um sorriso de existir e não de nos falar.
Caeiro surge, pois, como lírico espontâneo, instintivo, inculto (não foi além da instrução primária), impessoal e forte, mas muitas vezes, a simplicidade quase infantil do estilo, pobre de vocabulário, consegue exprimir a infinita diversidade, as incontáveis metamorfóses do mundo.
Sou um guardador de
rebanhos.
O rebanho é os meus
pensamentos
E os meus pensamentos
são todos sensações.
Penso com os olhos e
com os ouvidos
E com as mãos e os
pés
E com o nariz e a
boca.
Pensar uma flor é
vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é
saber-lhe o sentido.
Por isso quando num
dia de calor
Me sinto triste de
gozá-lo tanto,
E me deito ao
comprido na erva,
E fecho os olhos
quentes,
Sinto todo o meu
corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou
feliz
O
meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no
mundo como num malmequer,Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Neste poema, afirma-se, claramente, de modo muito nítido, a primazia do ver, do olhar, dos sentidos, sobre o pensar. O sujeito poético fala-nos da sua postura típica: "andar pelas estradas, / Olhando para a direita e para a esquerda", vendo tudo muito bem, porque o seu "olhar é nítido como um girassol" (comparação), reparando bem que as coisas que vê são sempre diferentes. É que ele se quer como criança - sabendo ter "o pasmo essencial / Que teria uma criança se, ao nascer, / Reparasse que nascera deveras". Por isso, sente-se renascer em cada momento. "para a eterna novidade do mundo".
"... pensar é
não compreender..."
"Eu não tenho
filosofia, tenho sentidos..."
"(Pensar é
estar doente dos olhos)"
Isto é, para além de
poeta - "pastor por metáfora", ele é também um poeta-oxímoro: a sua
filosofia é uma não-filosofia, afinal, uma recusa do pensamento abstrato,
considerado como oposto ao "sentir" (com os sentidos, não com o
sentimento). Repare-se que sempre que se refere ao pensar, isto é visto como
negativo: "é não compreender ...", "é estar doente". Mesmo
falando na Natureza (com maiúscula), representando um conceito "abstrato"
(natureza será um conjunto de coisas existentes, logo entidade abstrata), seria
para ele uma contradição, não é porque saiba o que ela é, mas porque a ama
(introduzindo aqui um outro conceito essencial na sua poesia, para além do ver:
o amar).
Termina então,
naturalmente, como se de conclusão lógica se tratasse: "Amar é a eterna
inocência, / E a única inocência é não pensar".
-----------------------------
Não
acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
A
definição de Deus nesse poema aproxima-se do panteísmo, doutrina filosófica
segundo a qual só o mundo é real e Deus é a soma de todas as coisas e nelas se
manifesta. Assim, as flores, as árvores, os montes, o sol e o luar são
manifestações da própria divindade. Pode-se, assim, falar de uma verdadeira
"religião da Natureza".
LIBERTINAGEM
MANUEL
BANDEIRA
Os
temas principais da poesia de Manuel Bandeira estão presentes nesta obra, temas
como a própria poesia (metalinguagem), o cotidiano, a infância, a doença (a
tuberculose), o erotismo e a morte. A marca registrada do autor é a simplicidade:
frases simples, vocabulário simples e estilo simples.
Em “Libertinagem”, o autor consegue despojar a poesia dos ritmos clássicos, da métrica e do vocabulário elevado. Opta por ritmos próximos da fala cotidiana, pelo vocabulário do dia a dia e pelo verso livre. As principais técnicas do modernismo da 1ª fase estão presentes na obra: anti-academicismo, verso livre, coloquialismo, afastamento das normas gramaticais, poema piada, humor, paródia, nacionalismo crítico e valorização do folclore.
Em Manuel Bandeira, a emoção é sempre comedida, mesmo quando o tema é a morte. Aquilo que para nós, leitores, é estranho como a doença e a morte, recebe tratamento familiar, enquanto aquilo que nos é familiar é tratado como algo estranho, distante, possível somente na imaginação
Em “Libertinagem”, o autor consegue despojar a poesia dos ritmos clássicos, da métrica e do vocabulário elevado. Opta por ritmos próximos da fala cotidiana, pelo vocabulário do dia a dia e pelo verso livre. As principais técnicas do modernismo da 1ª fase estão presentes na obra: anti-academicismo, verso livre, coloquialismo, afastamento das normas gramaticais, poema piada, humor, paródia, nacionalismo crítico e valorização do folclore.
Em Manuel Bandeira, a emoção é sempre comedida, mesmo quando o tema é a morte. Aquilo que para nós, leitores, é estranho como a doença e a morte, recebe tratamento familiar, enquanto aquilo que nos é familiar é tratado como algo estranho, distante, possível somente na imaginação
--------------------------------------------------------O LIVRO – LIBERTINAGEM - TEM 38 POEMAS
SELECIONEI 7 PARA A
TUA PROVA DA UFPA
1
- "Teresa" - Poema-paródia do
texto lírico de Castro Alves chamado "O 'adeus' de Teresa". Antilírico,
o poeta revela distância da idealização, confirmando, na última estrofe, a
presença das transformações seja no plano físico, seja no sentimental.
O texto de Castro Alves é uma exaltação à beleza e ao erotismo da mulher amada, contudo, a última estrofe, acompanhada do tom grandiloquente do poeta, revela traição:
(fragmentos)
A vez primeira que eu fitei Teresa
Como as plantas que arrasta a correnteza
A valsa nos levou nos gritos seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me: "adeus!"
(...)
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela, arquejando, murmurou-me: "adeus"!
(Castro Alves)
O texto de Castro Alves é uma exaltação à beleza e ao erotismo da mulher amada, contudo, a última estrofe, acompanhada do tom grandiloquente do poeta, revela traição:
(fragmentos)
A vez primeira que eu fitei Teresa
Como as plantas que arrasta a correnteza
A valsa nos levou nos gritos seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me: "adeus!"
(...)
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela, arquejando, murmurou-me: "adeus"!
(Castro Alves)
-----------------------------------------------
A
primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
2 "Poema tirado de uma notícia de jornal" - A morte é o grande tema. Ela é anunciada. Trata-se de uma notícia de jornal sobre a morte de mais um favelado. A miséria anônima e irônica (vem do alto, no morro da Babilônia, como o jardim suspenso da Babilônia) desce e chega à Lagoa Rodrigo de Freitas (lugar da classe alta no Rio de Janeiro). O drama e o elemento narrativo unem-se ao ritmo: versos longos na introdução e no desfecho.
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
2 "Poema tirado de uma notícia de jornal" - A morte é o grande tema. Ela é anunciada. Trata-se de uma notícia de jornal sobre a morte de mais um favelado. A miséria anônima e irônica (vem do alto, no morro da Babilônia, como o jardim suspenso da Babilônia) desce e chega à Lagoa Rodrigo de Freitas (lugar da classe alta no Rio de Janeiro). O drama e o elemento narrativo unem-se ao ritmo: versos longos na introdução e no desfecho.
João
Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão
sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
3) "Andorinha" - A vida, simbolizada pelo pássaro, é o exterior, o mundo, o cotidiano, todas as "coisas" que contrastam com o sofrimento, a tristeza do poeta que constata: não pôde viver o que queria, passou a vida à toa e, agora, só a morte o aguarda.
4 ) "Pneumotórax" - Refere-se à doença de Manuel Bandeira - a tuberculose. A morte, novamente em evidência, é tratada em tom jocoso da primeira geração modernista: humor negro, coloquialismos, autoironia, além da técnica de marcação teatral com o emprego do diálogo.
Repare na linha pontilhada que quebra a narrativa dialogada, remetendo-nos também a uma quebra na respiração, e no verso 2 - célebre.
5) "Irene no Céu" - Embora o poema refira-se à imagem de uma pessoa querida pelo poeta, presente em sua infância, Irene representa também a mulher escrava, submissa, inferiorizada. O poeta sutilmente opõe branco e negro na segunda estrofe, onde Irene pede licença a São Pedro, chamando-o de meu branco.
Há ainda a exaltação à linguagem coloquial. A fala de São Pedro ordena: "- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença". Na linguagem normativa, o correto seria conservar o tu ou empregar o verbo na 3ª pessoa do singular. Assim, teríamos:
- Entra, Irene. Tu não precisas pedir licença
- Entre, Irene. Você não precisa pedir licença
6) "Vou-me Embora Pra Pasárgada" - Nesse poema, Bandeira busca a utopia, a evasão, o lugar onde possa realizar-se, onde fuja da morte (Quando de noite me der / vontade de me matar), onde se mesclem os elementos reais e o nonsense, onde a doença não será empecilho porque simplesmente não existirá, onde a infância será revivida e os homens e mulheres que participaram de sua vida, presentes, representados por Rosa.
O termo Pasárgada ocorreu ao poeta num momento de desânimo devido à doença. Ouvira no colégio algo sobre uma civilização ideal, antiga, fundada por Ciro, na Pérsia.
sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
3) "Andorinha" - A vida, simbolizada pelo pássaro, é o exterior, o mundo, o cotidiano, todas as "coisas" que contrastam com o sofrimento, a tristeza do poeta que constata: não pôde viver o que queria, passou a vida à toa e, agora, só a morte o aguarda.
4 ) "Pneumotórax" - Refere-se à doença de Manuel Bandeira - a tuberculose. A morte, novamente em evidência, é tratada em tom jocoso da primeira geração modernista: humor negro, coloquialismos, autoironia, além da técnica de marcação teatral com o emprego do diálogo.
Repare na linha pontilhada que quebra a narrativa dialogada, remetendo-nos também a uma quebra na respiração, e no verso 2 - célebre.
5) "Irene no Céu" - Embora o poema refira-se à imagem de uma pessoa querida pelo poeta, presente em sua infância, Irene representa também a mulher escrava, submissa, inferiorizada. O poeta sutilmente opõe branco e negro na segunda estrofe, onde Irene pede licença a São Pedro, chamando-o de meu branco.
Há ainda a exaltação à linguagem coloquial. A fala de São Pedro ordena: "- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença". Na linguagem normativa, o correto seria conservar o tu ou empregar o verbo na 3ª pessoa do singular. Assim, teríamos:
- Entra, Irene. Tu não precisas pedir licença
- Entre, Irene. Você não precisa pedir licença
6) "Vou-me Embora Pra Pasárgada" - Nesse poema, Bandeira busca a utopia, a evasão, o lugar onde possa realizar-se, onde fuja da morte (Quando de noite me der / vontade de me matar), onde se mesclem os elementos reais e o nonsense, onde a doença não será empecilho porque simplesmente não existirá, onde a infância será revivida e os homens e mulheres que participaram de sua vida, presentes, representados por Rosa.
O termo Pasárgada ocorreu ao poeta num momento de desânimo devido à doença. Ouvira no colégio algo sobre uma civilização ideal, antiga, fundada por Ciro, na Pérsia.
Vou-me
embora pra Pasárgada
Lá
sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Montarei
em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
7 "Poética" - Espécie de plataforma teórica da poesia modernista, "Poética" é um texto de propostas e críticas. Propostas modernistas e críticas ao tradicionalismo, representado pela estética parnasiana.
São sete estrofes, sendo que a 1ª, 2ª, 4ª e 5ª criticam o formalismo, a burocracia e a falta de espontaneidade dos poetas parnasianos. Já a 3ª, 6ª e 7ª propõem a liberdade de expressão, a autenticidade, rompendo com o parnasiano tanto no plano do significante quanto do significado.
Trata-se, portanto, de um poema metalinguístico.
Estou
farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernácuLO de um vocábulo
Abaixo aos puristas
UMA DICA IMPORTANTE
Bembelelém
VivaBelém!
Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré
Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro
Bembelelém
VivaBelém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.
VivaBelém!
Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré
Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro
Bembelelém
VivaBelém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.
CRUZ E
SOUSA
Essa dor foi mais do que real em Cruz e Sousa. Os
motivos são vários. A cor de sua pele, por exemplo. Negro, Cruz e Sousa teve
que lutar - com a ajuda de vários amigos brancos, é verdade - contra as
inúmeras agressões morais que recebia. Esse preconceito, é claro, não lhe
passou impune. Em diversas ocasiões, escreveu poemas anti-escravistas
A beleza que reside em Cruz e Sousa não se limita apenas em explorar esses fatos, e sim a profundidade espiritual com que o poeta os analisou. Aliás, o choque entre o bem e o mal, o carnal e o místico, parece ser fundamental para uma melhor análise de sua obra. Até porque alguns temas enaltecidos pelos simbolistas - como o satanismo exacerbado de Lautréamont, o haxixe e o ópio de Baudelaire - não pareceram seduzi-lo. O vinho, por exemplo, era negro. E, embora tenha falado diversas vezes no Deus do Mal, não parece jamais que o tenha adorado.
Cárcere
das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?
Os
miseráveis, os rotos
São as flores dos esgotos
São espectros implacáveis
Os rotos, os miseráveis
São prantos negros de furnas
Caladas, mudas, soturnas (...)
Faróis à noite apagados
Por ventos desesperados(...)
Bandeiras rotas, sem nome,
Das barricadas da fome.
Bandeiras estraçalhadas
Das sangrentas barricadas.
São as flores dos esgotos
São espectros implacáveis
Os rotos, os miseráveis
São prantos negros de furnas
Caladas, mudas, soturnas (...)
Faróis à noite apagados
Por ventos desesperados(...)
Bandeiras rotas, sem nome,
Das barricadas da fome.
Bandeiras estraçalhadas
Das sangrentas barricadas.
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
PRIMEIRA MANHÃ
DALCIDIO JURANDIR
1.
A obra enquadra-se na transição entre a Segunda Geração Modernista e a terceira
geração modernista.Temos o regionalismo e a crítica social, o neorrealismo da
segunda geração com o aumento considerável do fluxo de consciência, uma das
marcas de consistência da terceira geração. Personagem no cotidiano, sem
idealizações.
2. Alfredo representa o alter-ego do autor Dalcídio Jurandir. Realidade e ficção em cada frase, pelas ruas de Belém e nas memórias do Marajó.
3. Uma Belém da periferia, Telégrafo, Pedreira, Acampamento que vai ao centro, o Liceu.
4. O personagem Alfredo vive em um mundo cercado de mulheres, porém limitadas pela pobreza, ausência, ou baixa escolaridade, mulheres em torno, ou em busca de seus homens.
5. Parece que o professor Benício ao falar que números e letras, são apenas números e letras e que a grande ciência da vida, estaria no mistério de entender as mulheres. Tenta apontar um caminho entre a vida prática, real e a vida acadêmica, distante baseada em uma cultura europeia.
2. Alfredo representa o alter-ego do autor Dalcídio Jurandir. Realidade e ficção em cada frase, pelas ruas de Belém e nas memórias do Marajó.
3. Uma Belém da periferia, Telégrafo, Pedreira, Acampamento que vai ao centro, o Liceu.
4. O personagem Alfredo vive em um mundo cercado de mulheres, porém limitadas pela pobreza, ausência, ou baixa escolaridade, mulheres em torno, ou em busca de seus homens.
5. Parece que o professor Benício ao falar que números e letras, são apenas números e letras e que a grande ciência da vida, estaria no mistério de entender as mulheres. Tenta apontar um caminho entre a vida prática, real e a vida acadêmica, distante baseada em uma cultura europeia.
Temática:
Os primeiros dias do jovem Alfredo no colegial, descobertas e frustrações em um
verdadeiro ritual de passagem do menino para o rapaz.
Espaço:
Ruas e bairros principais de Belém o Liceu e a casa da José Pio. No campo da
memória Cachoeira e Muaná no Marajó
Pontos Importantes
· A escola aparece como
um local que não fora feito para ele.Sentia-se meio intruso, o menino pobre
descedentes dos negros da areinha, da tão distante Cachoeira e tão presente
Cachoeira em seu fluxo de memória. O menino da cor da água barrenta,em
contraste com o confiante e abusado loiro do quinto ano.
· Alfredo sente-se
representante de todos os seus colegas de Cachoeira,meninas e meninos que não
teriam a chance de frequentar o ginásio.Nessa dualidade entre o orgulho de
representar os humildes amigos do seu munícipio e a hostil recepção dos alunos
ao ginasiano do primeiro ano
· Professores
autoritários ministrando um conhecimento livresco,sem qualquer ponto de contato
com esse menino amazônico. O professor de Geografia falava dos afluentes dos
rios da Europa...
· A covardia denominada
de trote,pois por falta do uniforme faltou os primeiros oito dias de aula. Foi
esculachado no pátio e correu para frente do colégio,sendo perseguido pelos
alunos” Todo o Ginásio sabendo
que um tamanho caverna do primeiro ano, o calouro da roça, covardemente fugiu
do trote devido.”
· Luciana a
desabençoada,que deu mau passo,que levou uma surra de sua mãe, a insensível
dona Jovita,que lhe deu tamanha surra e lhe deixou presa, nua em pelo, no
quarto que guardava as selas dos cavalos.
· Luciana fora salva
pelo raio,que matou dezesseis porcos e danificou sua prisão.Ela fugira.
Tornou-se a renegada,mesmo sendo a filha caçula,outrora já tinha sido a
preferida do coronel.
· A residência da José
Pio em Belém, que fora construída para a moçinha e ela nunca conheceu. Agora o
sensível e pensativo Alfredo estava no lugar da dasabençoada Luciana. Na casa
que deveria ser da estudante Luciana.Sentia-se as vezes um pouco culpado,uma
sensação de usurpar o espaço alheio.” No lugar da outra, aqui no Ginásio, isto que não, que a casa é dela”
· Primeira manhã é um
romance de pouca ação e muita digressão. O fluxo de memória é intenso,muitas
vezes parece desordenado,marcado por muitas interrogações. No entanto esse vai
e volta ao passado serve para dar consistência psicológica aos personagens.
Assim entendemos suas atitudes no presente.
· Primeira manhã foi
publicado em 1968,porém sua proposta estética,enquadra-se na Segunda Geração
Modernista. O texto desenvolve dentro de uma ótica neorealista,baseado na
análise psicológica e na crítica social. Personagens verdadeiros em sua
composição,extraídos da vida, do cotidiano da cidade,como as duas muheres
preocupadas com as traições dos maridos.
· Ivaína,Braziliana
· Assim como em Belém do
Grão Pará que o ruir da casa dos Alcântara, aponta o caminho da decadência
familiar. Agora é a falante Abigail que narra como a casa de seu avô, o rei do
bucho,o imperador das vísceras, ficou em cacos ao desabar. Em cacos também
ficou a família,cada um para o seu lado e sem o conforto e as festas do ontem.
· Alfredo descobre o
despertar da sexualidade do menino homem, com as duas mulheres que tentavam achar
os maridos que provavelmente farreavam com as “mulheres da vida”,naquela noite.
· O jovem Alfredo sente
a mágica sedutora do colo da embotada Ivaína e os braços expostos da falante e
mais dada Abigail.Um jogo de sedução,com direito a roçada de braço,olhares,toque
nas mãos,o fechar dos colchetes do vestido de Abigail. Tudo isso envolto no
mistério da noite,locais ermos e perigosos que passaram,frustrações com os
maridos,muita imaginação do rapaz.”Duas senhoras lhe dão esta primeira vez de se portar como cavalheiro e
nelas, ao mesmo tempo assim devagarinho, ir descobrindo, adivinhando o que
ainda não via nas outras. Não, não é mais a Libânia nem Odaléa nem Andreza. Nem
Esméia, negra quanto donzela alva de jasmins.”
· “murmurou d. Abigail cruzando os braços nus,
sem dizer mais nada. À frente de Alfredo, parou, pediu-lhe, baixo: quer me
prender esse colchete aqui nas costas, não lhe fazendo de meu criado? mas a
entender que isso era só para cochichar-lhe: Aquela lá na frente vai que vai
escumando,
· As questões de terra
tanto no Marajó como em Belém. Na capital a familia Lobo parecia ser quase dona
da cidade.No Marajó a briga entreo coronel Braulino e a família Teixeira.
· A crítica a
Justiça,que só os poderosos serve. A crítica aos advogados através do doutor
Gurgel,que a anos sangra o bolso do coronel Braulino com essa “questã” como
pronunciava o coronel sua disputa na Justiça pela demarcação de suas terras.
· A ironia da vida “o Delabençoe, que abençoava tudo quanto fosse
menino, moça e rapaz em Cachoeira, delabençoando a filha dele.”
Sincretismo religioso de
d.Abigail “E alto aos santos pedia que salvassem o marido, nem um risco as duas
corressem, abençoassem o caminho delas, em tão tamanha noite, e prometia uma
cabeça de cera no Carro dos Milagres.” “Foi então que ouviu o tambor, na
Pedreira, batiam babaçuê, d. Abigail cantarolou
O CARRO DOS MILAGRES
Benedicto Monteiro
Ø Olhar do marginalizado O autor Benedicto Monteiro mostra o Círio através
do homem humilde do interior,pescador do Marajó.Foge da narrativa oficial, da
visão urbana do Círio,da visão jornalística...
Ø O promesseiro narrador Sintetiza o povo, o anônimo interiorano,com o seu
deslumbramento diante da Santa,com sua cultura do peixe frito,da farinha,da
cachaça,os seus causos, o brinquedo de miriti, os ditados populares,suas
idiossincracias,sua vivência de mundo
Ø Águas e o mar de gente O narrador cria uma analogia entre o desespero de
não alcançar o Carro dos Milagres, com o naufrágio sofrido no Marajó. A todo
momento faz comparações com o seu mundo marajoara. Durante a narrativa o
promesseiro tenta explicar o Círio, a partir do seu conhecimento de mundo,das
dificuldades que já enfrentara como pescador. Talvez pelo efeito da
cachaça,acreditou que ir na corda,ou colocar objeto da promessa no Carro dos
Milagres,era mais difícil que os perigos que já enfrentara nas águas da região.
No dia do temporal lá no Marajó as velas também foram perdidas: “Eu mesmo
não sei contar nada, depois que velas e mastros foram arrancados. Só sei que a
canoa ficou totalmente desamparada no meio da mais negra escuridão.”
Ø Patrimônio Imaterial O narrador percebe que o Círio não depende de
qualquer autoridade religiosa, política, ou da área de segurança para
acontecer. Uma manifestação de fé genuinamente popular.
Ø Santa e
Devoto Uma festa com dois elementos centrais, a Santa e
os fiéis. Nenhuma celebridade, artista, Presidente,Governador, jogador, ou
milionário terá o protagonismo durante o Círio
Ø A promessa A mãe do narrador fez promessa a Nossa
Senhora do Retiro, ou do Desterro e que deveria ser
no Círio de Nossa Senhora de Nazaré o pagamento– (a mesma Santa) pelo filho que
foi salvo do naufrágio
Ø Olhar do interior na capital O narrador está na procissão do Círio pela primeira
vez, seu intuito é pagar a promessa,está na Sé ao lado do compadre, observando
a multidão tomar conta da praça.
Ø Falso diálogo Conversa com o compadre,porém só o narrador tem
voz,o compadre não fala,não existe diálogo entre eles. ( falso diálogo).
Ø A maldita de Abaeté O compadre lhe acompanha nas doses de cachaça.
Ø Quando começa a procissão os dois “cabocos” já estão
alcoolizados
Ø O verniz religioso As três beatas e o falso testemunho,ausência de
caridade cristã, pois partiram logo para acusação de ser o romeiro um
incendiário ou ladrão. O falso mundo das aparências.
Ø Falta da essência cristã O padre cometeu o mesmo erro das beatas, pois nada
perguntou ao humilde romeiro. Estava preocupado apenas com aparência dos fatos
apresentados,pois pediu para o policial retirar o suposto meliante pelos fundos
da Basílica
Ø Sua leitura do século XII O narrador faz sua própria leitura da iconografia
da cena do nobre cavaleiro e marinheiro português D. Fuas Roupinho,presente nas
laterais do Carro dos Milagres. Protagonista de um milagre de Nossa Senhora de
Nazaré,no século XII
Ø Os balões coloridos No final do conto tudo fica subtendido que
provavelmente teria sido os balões de gás do filho do compadre, que levaram a
vela do barco do narrador
Ø A ironia do destino. O pai que tinha orgulho do filho não beber
cachaça, o filho ao sair para beber foi salvo da explosão
Ø A solidariedade O caráter solidário dos anfitriões que ao
perceberem o improvisado velório em sua sala, nada perguntaram e foram
abraçá-los na dor da perda. Representa a hospitalidade do paraense no período
do Círio.Especificamente das pessoas humildes que abrem suas residências para
centenas de milhares de romeiros do interior do Pará
Ø A boa acolhida Diferentes da beatas,do padre e do policial dentro
da Basílica,que não tiveram o despreendimento das aparências de um cristão
coerente com a filosofia de Jesus
Ø A crítica social, Mostrando a imoral moradia em cima de pontes,
palafitas. Ouro e a prata da Igreja, o patrão que arma emboscada para o
empregado...
Ø A rica e bela linguagem A oralidade, refletindo o saboroso falar do homem
marajoara. Ponto alto dessa narrativa é a oralidade, repleta de aliterações,sua
fala lembra o ritmo da corda,alucinante,frenético,acelerado.
Ø Regionalismo A obra é marcada pelo regionalismo, marcas da
cultura do Marajó (pesqueira), do Acará(farinha amarela), Abaeté (cachaça), as
tacacazeiras na festa do arraial em Belém...
VIAGEM DO ELEFANTE- SARAMAGO
Tudo começa quando o rei de Portugal dom João III,
na intimidade do seu quarto,demonstra a rainha Catarina a necessidade de
oferecer um novo presente ao primo é agora arquiduque de Espanha Maximiliano
II.
O rei envergonhou-se do presente que dera na ocasião
do casamento do primo, busca recuperar-se desse equívoco. A rainha sugere
primeiramente uma custódia,o que logo foi rechaçado,pois o primo estava mais
para a fé protestante.
O elefante
salomão foi a segunda sugestão da rainha, um paquiderme que a dois anos estava
em Lisboa,viera de Goa na Índia. Em sua chegada a capital portuguesa o elefante
fora recebido em grande estilo, da mais alta nobreza ao povo, todos visitaram o
elefante. Agora o animal estava abandonado em pequeno e fédito quadrado próximo
a torre de Belém.
O rei decide visitá-lo e conhece o indiano
maltrapilho Subhro, que tinha a função de cornaca,istoé,tratador do elefante.
O secretário Pêro de Alcáçoba Carneiro em nome do
rei envia a carta, oferecendo o novo presente ao poderoso Maximiliano. Afirma
que era o bem mais valioso do país. O arquiduque aceita o presente. Começa a
preparação da viagem. A caravana sairá de Lisboa com o destino final em Viena
na Áustria. Trinta soldados e trinta carregadores vão acompanhar o cornaca
coduzir o solimão durante dois anos( 1551-1553).
Nas primeiras horas de viagem, o comandante militar
se aborrece por peceber que o elefante tem o seu próprio ritmo.Toma banho no
rio por vontade própria,come bastante e tem reservado o sagrado horário da
sesta. Subhro comunica ao comandante a necessidade de mais uma junta de bois,
com objetivo de dar maior velocidade a caravana. O comandante consegue
requisitar os dois bois em uma aldeia, em nome do rei. Subhro narra a criação
do deus ganeixa, aquele que era barrigudo e com cara de elefante, que nascera
do sabão.
Na conversa afirma que Maria mãe de Jesus
completaria o quarteto divino e substituiria assim a santíssima trindade
católica (tom de ironia do narrador). Enquanto todos jantavam em volta da
fogueira, quatro moradores curiosos admiravam o elefante a distância.Um deles
ouviu que Deus era um elefante.No dia seguinte o padre acompanhado de toda a
cidade em procissão, seguiu para o acampamento. Com a desculpa que desejava
apenas dá a benção ao solimão para uma viagem tranquila.
Começou um inusitado ritual de exorcismo. O elefante
tocou levemente com sua pata e o padre foi jogado longe,sendo socorrido pelos
militares. O cura concluiu que a rejeição do elefante fora castigo do céu, pois
usara água de poço para o ritual de exorcismo.
Na continuação do trajeto enfrentaram uma forte
neblina.Um homem perdeu-se do grupo.Sentou-se,dormiu e acordou com o primeiro
barrito do elefante, no segundo grito ganhou direção no nevoeiro e no fraco e
terceiro barrito encontrou o acampamento.Acreditava que fora salvo pelo
elefante. Ajoelhado agradecia ao paquiderme. O cornaca discordou do milagre do
elefante e esvaziou a narrativa do tal homem,tanto que o sujeito voltou ao seu
anonimato,fez simple plof! Desapareceu da narrativa como uma bola de
sabão.(Lembrou do deus ganeixa,aquele que fora criado na hora do banho).
O narrador critica o lirismo saudosista português,
seria apenas invenção de alguns bons escritores da terra e não a natureza do
povo português.Ironiza a paixão do comandante pelas novelas de
cavalaria,citando o exemplar pirata de Amadis de Gaules, que o capitão possuia.
Maximiliano pergunta em carta, em qual ponto da
fronteira os portugueses entrariam na Espanha. O secretário Pêro de Alcáçoba
Carneiro não gostou do termo do seu colega espanhol “receber”, pois deveria ter
usado o vocábulo “acolher”. O secretário informou que seria pela fronteira de Castelo
Rodrigo,última cidade portuguesa no trajeto.O secretario mandou o comandante
preparar-se para tudo. O comandante preparou a tropa para até um possível
conflito.O alcaíde que seria o mandatário da cidade portuguesa,serviu como
diplomata entre os quarenta escudeiros austríacos,em suas armaduras de aço
escovado e o seu comandante montado em uma imponente égua e os portugueses.
Diante de um iminente conflito, no final tudo acabou bem.
Todos os portugueses e austríacos seguiram em solo
espanhol até Valladolid,cidade em que o arquiduque Maximiliano e sua esposa
Maria os aguardavam.
Temos a despedida ainda em Castelo Rodrigo dos
carregadores, que voltariam pelo litoral no caminho até Lisboa.
Subhro estava preocupado pois poderia existir outro
cornaca em Valladolid, ficaria desempregado. A cidade de Valladolid festeja a
presença de solimão e do arquiduque. Maximiliano resolve trocar o nome de
Subhro para Frtiz e de salomão para solimão.
A despedida dos soldados portugueses, salomão toca
com a tromba na divisa do capitão,emocionou os soldados. Três dias depois
partiram com Maximiliano no comando.Logo o arquiduque exigiu que a sesta de
solimão limitaria-se apenas uma hora. No dia seguinte percebeu que a ordem não
surtira efeito e por isso retirou a ordem,pois solimão não seguia a lógica
humana.
Chegaram a Mar de Rosas,após setecentos quilômetros
percorridos, cidade espanhola marítima,fronteira com a França. Embarcaram para
Gênova.Três dias e três noites de temporal.Solimão recebeu parte da chuva,
enquanto os príncipes treinavam para o terceiro filho.No desembarque o elefante
e Fritz brilharam e depois da euforia do elefante foi a vez do arquiduque
receber os aplausos.
Enquanto Maximiliano e Maria seguiram para Veneza, o
elefante e o cornaca ficaram em Pádua. Um padre pediu em nome da Igreja um
milagre, bastaria o elefante ajoelhar perante a basílica de santo Antônio de
Pádua. As ideias de Lutero estavam incomodando bastante.Era preciso reagir.
Fritz treinou alguma horas e ao meio dia,perante uma pequena multidão,sobre o
comando de um camuflado toque na orelha direita de solimão, o público aplaudiu
entusiasmado, o elefante dobrou os joelhos diante da basílica. O milagre foi
comunicado a Trento,local de origem da contrarreforma.Fritz passou a vender
pelos do elefante.
Maximiliano retorna rápido de Veneza e descobre como
tudo aconteceu. Pediu silêncio ao Fritz, pois envolvimento com os segredos da
Igreja era algo perigoso.Era melhor a neutralidade,fingir que nada sabia do
falso milagre.Esforçava-se para ter equilíbrio entre o valores de Lutero e os
valores do concílio de Trento. O secretário do arquiduque o comunicou que Fritz
continuava vendendo pelos sagrados.O arquiduque ordenou a imediata proibição da
venda do produto santo.Na despedida da cidade de Pádua foi organizada uma festa
noturna e um elefante de madeira foi construído em homenagem ao
Maximiliano,assim narrou o secretário ao arquiduque.
Pela manhã todos seguiram o caminho tomado pela
neve.Maximiliano disparou na dianteira, ,deixando todos para trás, quando de
repente o eixo do carro do arquiduque quebrou. O conserto da carruagem levou
tempo suficiente para agregar a todos novamente na comitiva .Maximiliano fora
incoerente,pois assinalara para o grupo que todos seguiriam juntos, sem
dispersão.Na prática não foi isso que fizera.Na primeira noite pediram abrigo
nas residências da cidade de Bolsano. Solimão ficou embaixo do alpendre,as
laterais eram abertas.Fritz contara muitas histórias para os três garotos da
residência que o abrigara.Pela manhã o sargento o comunicou que descansariam
quinze dias em Bressanone, ou Bixen.O arquiduque não desejava proximidade com
Fritz. Fritz imaginou um acidente com a arquiduque Maria.Aos seus comandos o
elefante a tiraria do barranco. Maximiliano o agradeceria em espanhol.Tudo fantasia
de sua mente culpada pela venda dos pelos de solimão.Enfrentaram o perigoso
passo do Isarco,ao ultrapassar a estreita vereda, solimão dobrou as patas e
caiu, por sorte Fritz não se machucou. Para comemorar Fritz bebeu uma dose de
aguardente com o boeiro.Durante os quinze dias solimão engordou.O narrador
afirmou que não tinha conhecimento bastante para descrever a passagem pelo
passo do Brenner,que seria muito mais perigoso que o passo do Isarco.Todos
passaram bem e não existiu dispersão. A próxima parada foi na cidade de
Innsbruck, na margem do rio Inn. Resolveram seguir embarcados,já no rio Danúbio
poderiam seguir até Viena.No entanto desceram próximo a capital. O arquiduque
anteriormente já tinha dado ordens para o secretário providenciar uma grande
recepção em Viena.No caminho para Viena os camponeses e as camponesas
demonstravam suas danças, o que entreteu a emocional Maria e não emocionou o
arquiduque que apenas fingia simpatia pelas apresentações. Na entrada de Viena,
o povo na rua, espera o seu arquiduque após três anos ausente. Solimão caminha
sem pressa, quando de repente uma garotinha de cinco anos correu na direção da
pata do elefante.O grito de horror saiu da boca da multidão.O regresso do
Maximiliano seria marcada pelo luto, pela lembrança da tragédia. Solimão com
sua providencial tromba a enroscou no corpo da criança e salva no ar como uma
nova bandeira. Os pais correram para agradecerem ao elefante. Muitos falaram
que fora um milagre, mesmo sem conhecer o milagre anterior, aquele da basílica
de Pádua. Maximiliano perdoa Fritz e o agradece pela atitude de solimão.Dois
anos depois solimão morreu,em 1553, de causa desconhecida.Suas patas dianteiras
serviram de porta guarda-chuva. Fritz foi indenizado e comprou uma mula e um
burro e desejava voltar a Portugal,porém desapareceu,mudou de ideia, ou morreu?
Ninguém teve notícias.Algumas semanas depois uma carta chegou a Lisboa. O Pêro
de Alcáçoba Carneiro leu a carta ao rei. A rainha pressentindo a notícia não
quis ouvi-lá e correu para o quarto.
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