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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

DICAS SOBRE AS LEITURAS DA UEPA - III FASE

LEITURAS DA UFPA - PSS 3 - ESTÃO NOS MESES DE FEVEREIRO E MARÇO ( VEJA O ÍNDICE DOS MESES )



RELAÇÕES ENTRE
AS LEITURAS DA UEPA



O Homem e a sua
perda de valores


 Vidas Secas
Apresenta a marginalização do homem , com o enfoque dado à animalização do ser humano , compondo através de Fabiano e sua família este aspecto degradante
Esta degradação do homem em Vidas Secas é algo motivado não apenas pela seca mas por forças opressoras que são sociais , políticas , históricas ( lembre dos personagens que ilustram metáforas do Estado Novo – o fazendeiro , o fiscal da prefeitura e soldado amarelo )


 Vestido de Noiva

Nelson Rodrigues revela em sua obra também a degradação do homem a partir da hipocrisia e do falso moralismo presente na família de Alaíde . Os mesmos pais que se preocupam com a imagem da casa recém comprada , e que resolvem purgar o pecado da casa queimando roupas que lembrassem o passado do bordel, são os mesmos pais que nada fazem diante do conflito das irmãs e do roubo de namorado e casamento entre Alaíde e Pedro

Temos também o jogo de interesses que conduz a relação entre as pessoas ( Pedro é alvo de interesse das duas irmãs e dos pais , pois é o rapaz que tem o status social , e assim os três – Alaíde , Lúcia e Pedro se integram numa relação hipócrita de afirmação e interesses particulares. Alaíde quer mostrar que pode ter quem quer e assim se afirmar diante da irmã com quem rivaliza sempre, Lúcia tem uma relação cômoda e de interesse social com Pedro e este casa com Alaíde só pra tirar sua virgindade )


Contos de Miguel Torga


Natal


O Homem e a sociedade mostrando a falta de solidariedade diante de Garrinchas, além da postura religiosa do homem questionada por Torga faz pensarmos o quanto o homem moderno está perdendo sua essência


Confissão


O homem moderno ( Reinaldo )que movido por mesquinharias e orgulhos consegue agredir e destruir a vida de alguém ( Bernardo ), premeditando um crime e deixando-o injustamente ser acusado de algo que não fez.


O Lopo


Um trabalhador ( Lopo ) ,que ao ser injustiçado,revida com mais violência e perde a dimensão humana ao matar o semelhante ( Casimiro )


Ironias nas obras

Vestido de Noiva

Começamos a perceber a ironia a partir do título , pois vestido de noiva simboliza a pureza , o romantismo do valor do casamento , e as uniões estabelecidas por Alaíde e Lúcia estão distantes deste conceito
Uma outra ironia interessante , é o conceito do Amo r na obra, pois ironicamente o amor de verdade acontece no bordel quando o rapaz se apaixona por Madame Clessi e isto motiva o crime passional da obra. Nos casamentos não podemos afirmar que o amor conduz as uniões


Vidas Secas

Da mesma forma que é notória a animalização de Fabiano , curioso e irônico é perceber seu orgulho em alguns momentos em ser como um animal. Quando se vê como um boi ou cavalo , vangloria-se de ser sinônimo de força e trabalho.


Natal

Ironias no comportamento dos moradores da cidade de Lourosa ( tendo como referência o status da cidade de ser religiosa e de ser época de Natal. )
Interessante também , ser o Garrinchas o formador do valor de família no texto , logo ele , sempre sozinho em sua jornada de vida ; além da maior riqueza humana neste texto estar depositada em Garrinchas , principalmente quando de suas atitudes finais diante da imagem da Mãe de Deus

O Lopo

O personagem Lopo passa da condição de marginalizado para o papel de marginal quando resolve fazer justiça com as próprias mãos.

O LOPO - MIGUEL TORGA - UEPA III FASE

O Lopo -MIGUEL TORGA

Enredo

Manuel Lopo abriu com muito esforço uma mina, no pé da montanha. Dedicou três meses de intenso trabalho.Picareta e dinamite. No entanto, um rico proprietário Dr Casimiro, disputou na justiça a posse da mina. O Lopo foi ao escritório do seu advogado,o Dr Canavarro. A notícia foi a pior possível. Perdera a causa e teria que pagar a custa do processo. Foi almoçar com o amigo Marrau. Após o almoço avisou o amigo que não esperaria, voltaria antes para casa. No caminho vinha compenetrado, por dentro estava arrasado, porém não aparentava a ninguém o seu estado emocional. Cumprimentou as pessoas pelo caminho. Resolveu visitar a mina pela última vez. Lavou o rosto no riacho e voltou resoluto para casa. Ficou tranqüilo novamente. Mentiu para a espo-sa, afirmando que o advogado não tinha nenhuma novidade. Foi a janela, cumprimentou quem passava, jantou e foi dormir. Não teve insônia. Pela manhã mentiu a esposa.Disse que iria caçar uma lebre. Atravessou a cidade de Carvas, antes dos moradores despertarem. Seguiu para a propriedade rural do Casimiro a quinta dos Balaus ) . O Casimiro admirava sua plantação de uva.

O Lopo o chamou por duas vezes. Atirou.

O final do conto

O Lopo, então, saltou ao caminho, regressou a casa pelo Lenteiro, depois de atirar a caçadeira a um poço, e falou assim à mulher:
—A questão está perdida e o ladrão já foi prestar contas a Deus. Sigo agora para Fermentelos, a ver se o Grilo me arranja dinheiro e passo a fronteira .ainda esta noite. Embarco em Vigo. Não levo nada, para ir mais leve e ninguém desconfiar. Tu ficas aqui, muito calada, até eu dar noticias. Adeus, e não chores.



Análise

Humano e desumano


As pessoas que possui uma visão humanística de sociedade, que lutam e sonham por uma relação fraterna entre as pessoas, Isto é, a valorização da justiça, da dignidade, do respeito ao próximo, a consciência de cidadania e a propagação de valores em busca da melhora moral do ser humano.
Sente-se incomodado com a solução radical no término do conto. O protagonista de marginalizado transfigura-se em marginal, assassino, aparentemente frio.
Esse limite entre o humano, o racional, o consciente marido, o tranqüilo amigo, o vizinho ,o trabalhador ,o cidadão e de repente o homicida,o fugitivo, o marido ausente, o renegado social ... Até onde é o limite do humano e desumano em nós? O cidadão que virou assassino. Vingou-se, porém tornou-se um ser marginalizado e marginal. A justiça pelas próprias mãos nesse caso e na maioria das vezes é
incompatível com o humanismo e acaba descambando para a barbárie.

Inegável a culpa do Estado através dos seus agentes, que omissos ou promíscuos em suas funções,colaboram para o atraso das relações sociais e a deturpação da dignidade humana.
Temos um conluio de valores deturpados,para a felicidade das pessoas como : ganância e mentira, corrupção,crimes, que não findou no assassinato. A violência em suas múltiplas formas. A esposa separada do marido é um exem
plo de violência.



Traços marcantes


Os Personagens de Miguel Torga são humildes, porém não são subservientes. O Lopo mesmo sofrendo uma revolução interior , não demonstra o seu estado de espírito a ninguém. Almoça,cumprimenta as pessoas no caminho, janta,dorme...e mata o desafeto.



Regionalismo


Retrata o interior de Portugal, região norte do país. Carvas e seus arredores. Era inverno,mês de janeiro. No campo lexical, temos vários termos da região.
Vai uma cigarrada? ,
... respondeu a todas as pessoas que encontrou e o salvaram, e em Lobrigos, seco dos fumos da raia, bebeu um quartilho, sem que o taberneiro desse conta de qualquer nuvem a turvar-lhe o semblante.
— Então adeus, ti João!
— Adeus, Manuel. Vais-te chegando ao borralho?
Esse conto mesmo sendo regionalista, possui características universais. Vejamos a seguinte correlação entre esse conto de 1941, que retrata a,região norte de Portugal e a realidade do interior do nosso Pará.

Quantos agricultores passaram e passam por situação parecida,nas terras amazônicas, que são griladas por grandes latifundiários,com a conivência de donos de cartórios e diversas autoridades municipal,estadual e federal.
O pequeno Posseiro é expulso da terra , enquanto o grileiro expande sua documentada propriedade, ou as
vende aos grandes bancos e multinacionais. A sede do poderoso na sua ganância, ausência e corrupção do Estado, gera violência e atraso social em qualquer lugar do mundo.


Temática : A violência ( Os limites da justiça )


a) A violência do ganancioso, que já tem muito e quer mais ,independente da ética, do certo, do justo. Personificado no conto pelo Dr Casimiro.
b) A violência do Estado, personificado na justiça que não é justa.Que é corrompida pela força do poder econômico. Não cumprindo sua função social para qual foi criada.
c) A violência de um trabalhador ,que ao ser injustiçado,revida com mais violência e perde a dimensão humana ao matar o semelhante.
Trabalhadores
Mesmo o Dr Casimiro como o Manuel Lopo, todos são trabalhadores características dos personagens dessa região


FRAGMENTOS DO TEXTO PARA LEITURA


- Então perdi?!
- É como dizes.
- Custas e tudo?
- Tudo.
- Bem, pronto, não se fala mais nisso. E muito obrigado. O outro já saberá?
- Não. A notícia só lhe deve chegar de aqui a dois ou três dias. Eu soube-a particularmente.
- Então dou-lha eu...
O velho dr. Canavarro parou de embalar o bloco e fitou o Lopo. Depois, calmamente, perguntou-lhe:
- Tu não estás de mal com ele?
- Estou, mas que tem lá isso? As pazes fazem-se depressa. Ganhou, que hei-de eu fazer? Digo-lho...
- Bem, arranjai-vos lá. Quarta ou quinta da semana que vem., aparece, para se ver quanto deves. Sabes que a justiça não perdoa...
- Há tempo...
- Olha que eles gostam pouco de esperar
- Esperam...
A chegada em sua casa , omitindo o fato diante de sua esposa


- Já vieste?! - admirou-se ela, ao vê-lo chegar tão cedo.
- Vim... - respondeu, naturalmente. - Arranjei o que tinha a arranjar apenas cheguei, que ficava lá a fazer ?
- E então? Que disse o advogado?
- Ainda não sabe nada. A tarde desceu serena, a esfriar de hora a hora e a levedar um segredo profundo, calmo, de toda a natureza.
- Boa noite!
A Rita ficou a cirandar pela casa, e quando se foi deitar já o encontrou a dormir, tão imóvel e repousado no seu canto que nem a sentiu. Ao romper do dia, como habitualmente, ergueu-se ele primeiro. Lavou-se, tirou da arca a costumada côdea de pão, matou o bicho com aguardente, e foi à sala buscar a arma.
- Vou dar uma volta.
- Hoje?! Cuidei que escavavas o bardo...
A decisão de fazer justiça com as próprias mãos.

Agachado e embrulhado no varino, a crucificar o presente em nome do futuro, o senhor Casimiro lá continuava no seu afã de impor ao sono das cepas um despertar fecundo. Tanto empenho punha no trabalho que nem dava conta do que se passava à volta. E foi preciso o Lopo gritar duas vezes para que sentisse ruído e se erguesse a ver o que era.
- Sou eu - disse-lhe então o Lopo, direito em cima do muro, com ele já no ponto de mira.
- Sou eu que lhe trouxe este recado da Vila...
O tiro partiu, o podador caiu de bruços sobre a videira, e o sol por detrás dos montes começou a tentar encher o dia de inverno de uma luz doirada de primavera.O Lopo, então, saltou ao caminho, regressou a casa pelo Lenteiro, depois de atirar a caçadeira a um poço, e falou assim à mulher:
- A questão está perdida e o ladrão já foi prestar contas a Deus. Sigo agora para Fermentelos, a ver se o Grilo me arranja dinheiro e passo a fronteira ainda esta noite.
Embarco em Vigo. Não levo nada, para ir mais leve e ninguém desconfiar. Tu ficas aqui, muito calada, até eu dar notícias. Adeus, e não choreS

CONFISSÃO - MIGUEL TORGA - UEPA III FASE

CONFISSÃO - MIGUEL TORGA

Comentário do Prof. Gil

A temática gira em torno das injustiças , pré-julgamentos , e covardias nas atitudes das pessoas, e as conseqüências imediatas que destruíram a vida do personagem que foi preso injustamente ,e depois fugiu , mas que quando retorna a cidade natal quase 50 anos depois , tem um momento de poder vingar a injustiça diante do defunto que desvirtuou sua pacata vida


Mas perceba o conceito de justiça neste texto.
Será que os homens são sempre coerentes em seus julgamentos?
Apenas o Padre Artur acreditou numa inocência de Bernardo diante dos fatos contundentes que apontavam ele como assassino.

Um outro aspecto é a confissão de Reinaldo , após 50 anos. Leve em conta que não é um ato de bondade ou tão pouco uma forma de se redimir, pois ele só pensa em si na hora de se confessar pois está no leito da morte.

As bofetadas dadas por Bernardo ,claro que podem representar a idéia de uma vingança , movido este pela emoção > Mas nada , absolutamente nada pode recompor o que foi perdido em sua vida depois da acusação e os 50 anos com este fardo pesado e injusto nas costas.
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FRAGMENTOS DO TEXTO PARA LEITURA

Entrou calmamente e tentou provar mais uma vez a sua inocência. Brigara,realmente, na noite de Reis com o Armindo, de quem, como toda a gente podia testemunhar, era amigo. Andavam na paródia, beberam muitos quartilhos e, às tantas, por dez réis de coisa nenhuma, pegaram-se. Dera, levara, mas em luta aberta e leal. No fim da zaragata, bem apalpados ambos, seguira cada qual o seu caminho e do fundo da rua é que ouvira gritar aqui del-rei.


- Confessa. Confessa, que é melhor...
- Já lhe disse que não fui eu!
- Queres provar da marmelada, está visto. Pois seja feita a tua vontade.
Olhou fixamente o fatinário antes do primeiro golpe. Sabia que as aparências o comprometiam e que caíra nas mãos do Diabo.Todos,aberta ou encobertamente, o consideravam o autor do crime. A própria vítima o apontara à justiça.
- Ah! Bernardo, que me mataste! - gemera o Armindo, ao sentir-se trespassado pelas costas.
Voltava agora, decorrido meio século, velho, pobre, amargurado, com toda uma existência de exilado atrás de si e dorido ainda dos golpes injustos que recebera. A que vinha? Rever a terra da criação, rezar duas avé-marias na sepultura dos pais e calar uma ânsia obscura de resgate que os anos tornavam cada vez mais premente.
Não anunciara a chegada nem mesmo à única irmã que lhe restava. Vinha como um fantasma sorrateiro apropriar-se da realidade de que fora espoliado.
- Oh! Bernardo! - gritou-lhe uma voz cavernosa atrás das costas.
Voltou-se. Era o padre Artur, seu companheiro de meninice, ainda seminarista na altura do crime. Sempre a pastorear freguesias longínquas, fora finalmente encarregado do rebanho nativo.
- Oh! Artur! - correspondeu num alvoroço, esquecido de distâncias e conveniências.
Caíram nos braços um do outro, num irresistível impulso fraterno.
- Ainda bem que voltaste! Ia-te escrever hoje. Até pedi a direcção a tua irmã. Tinhaslhe dito que vinhas?
- Não valia a pena...
- Então vai ter com ela e amanhã falamos. É que o Reinaldo morreu esta manhã. Ouvi-o ontem de confissão... Eu sempre acreditei na tua inocência, rapaz! Melancolicamente, pegou na mala e deu alguns passos em direcção à casa paterna.Mas logo adiante parou, depus o carrego e mudou de rumo. No cimo da rua principal desandou à esquerda, atravessou vários quinteiros, subiu as escadas do Reinaldo e entrou. O ambiente era lúgubre. Havia lágrimas e luto em todos os olhos. Rompeu por entre a multidão que se acotovelava, sem ninguém o reconhecer.

- Quem é? - perguntavam. - Não sei.

O cadáver jazia ainda sobre a cama, já vestido, à espera do caixão. A passos lentos aproximou-se e fitou durante alguns momentos afigura hirta e mirrada do defunto. De repente, num ímpeto, deitou-lhe as mãos às abas do casaco, ergueu-o e rouquejou, fora de si:

- Estás morto, é o que te vale. Mas mesmo assim não vais deste mundo sem duas bofetadas na cara, covarde! E deu-lhas

NATAL - MIGUEL TORGA - UEPA III FASE

Novos Contos da Montanha , de Miguel Torga
Entre o subjetivismo da geração anterior à sua e o neo-realismo da geração que surgia, Miguel Torga tornou-se uma voz singular na literatura portuguesa do século XX. Apresentando um Portugal agrário, em imagens reais, dramáticas e ao mesmo tempo líricas, os contos de Miguel Torga revelam a dura humanidade de um povo.

Publicado pela primeira vez em 1944, Novos Contos da Montanha, oferece um conjunto de vinte e duas narrativas breves,
Nesta obra, como na maioria da escrita da sua autoria, o autor ficcionaliza, num registro muito peculiar (marcado pelo recurso a um tom coloquial, a uma significativa adjetivação e a diversas metáforas muito expressivas) uma realidade à qual se encontra umbilicalmente ligado, imprimindo à ação e às personagens que habitam a história um caráter profundamente humano, dramático e, de certo modo até, agônico ou desesperado



NATAL
MIGUEL TORGA


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De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis por se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre nosso.
Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era
outra conversa. As boas acções é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino!

Mas, enfim...
Setenta e cinco anos., parecendo que não, é um grande carrego.
. E, como anoitecia cedo, não havia outro remédio senão ir agora a mata cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar!

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Análise do Prof. Gil Mattos

Reflexões críticas

 Natal.
Qual o sentido do Natal? ( Família , União , Fraternidade , Solidariedade ). Intrigante é perceber que um senhor de idade ( 75 anos ) , pede esmola em pleno Natal e em uma cidade considerada muito religiosa ( Lourosa ). E a reação das pessoas é um reflexo do homem moderno , cercado pelo individualismo , falta de solidariedade e por falsos valores.

 Depois temos que reconhecer a aceitação (consciente e crítica) da condição do Garrinchas: aceitação da condição de pedinte e de carente, mas não vencido da vida; que o faz ser perseverante e ir mais longe pedir esmola

 Depois analisemos a caminhada, o esforço necessário e a superação das suas limitações físicas. Aqui já está em jogo preservar a identidade, mesmo ao nível da sobrevivência. E é neste nível que se situa a decisão de pernoitar na ermida da Senhora dos Prazeres
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Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama! Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.
Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças! Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiuse,e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se
dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.

Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois dum clarão animador, apagou-se.
Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos, é que não. Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel. Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao Céu por aquela ajuda, olhou o altar. Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe.

Boas festas! Desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se
E deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo. Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de se cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava ?


Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se.Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência,
ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda.
É servida? A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.
E o Garrinchas., diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se
ao altar, pegou na e trouxe-a para junto da fogueira.

Consoamos aqui os três disse, com a pureza e a ironia dum patriarca. A senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.



Análise do Prof. Gil Mattos
 O mesmo se passa com a decisão de fazer uma fogueira à custa do papel da sacristia ou até do andor da procissão.
 Na condição de pedinte garantiu a comida e na consciência das circunstâncias garantiu o agasalho.

ATITUDES SIMBÓLICAS MARCANTES

 E, então, o Garrinchas realiza a primeira relação: cumprimenta a Mãe de Deus, respondendo a uma solicitação que teve possibilidade de receber porque se começou a poder descentrar de si
 O segundo comportamento, mais admirável, é composto por dois momentos: o primeiro é a oferta dos bens; e o segundo é a oferta de si próprio. Isto é, primeiro oferece os bens materiais pão e presunto e depois apresenta-se para complemento do quadro familiar.
 Mas ainda há uma outra dimensão implícita de realização: o Garrinchas transcende-se e, "embora indigno", é elevado à categoria de S. José.
 Em plena noite de Natal , o sentido de Família , Solidariedade , Fraternidade e União foram estabelecidas através de Garrinchas que tornou-se diferentemente dos homens que sempre negaram a ele ajuda, um homem que doou de si , do pouco de si ( materialmente ) e faz o rico momento da família ao lado da imagem da Mãe de Deus

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