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quinta-feira, 28 de maio de 2009

CONTOS MACHADIANOS -CAPÍTULO DOS CHAPÉUS - UEPA FASE II


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Machado de Assis notabilizou-se por dominar a análise psicológica, dissecando a alma humana em busca de sua essência, que muitas vezes é dilemática, ou seja, expressa o conflito e muitas vezes a conciliação entre elementos opostos. É muito comum em suas narrativas depararmo-nos com ações que, mesmo tendo uma determinada inspiração, revelam também o seu oposto.

Dessa forma, a complexa visão machadiana sobre o homem vai muito além do que os seus contemporâneos faziam. Reforça essa superioridade a intensidade que imprime ao caráter psicossocial, entendendo a personalidade humana como fruto de forças da sociedade, principalmente aquelas que valorizam o status, o prestígio social.

Assim, os contos constituem rico material para um estudo da psicologia do homem e de como ele se comporta no grupo em que vive. Vemos neles a análise das fraquezas humanas, norteadas muitas vezes pela preocupação com a opinião alheia. Em inúmeros casos as personagens fazem o mesmo que nós: mentem, usam máscaras, para não entrar em conflito com o meio em que estão e, portanto, conviver em sociedade. O pior é que levam tão a sério essa máscara que chegam até a enganar a si mesmas, acreditando nela como a personalidade real.

Por causa desses elementos temáticos, notamos uma peculiaridade nos contos machadianos. Esse gênero, graças à sua brevidade, dá, por tradição, forte atenção a elementos narrativos. Não há espaço, pois, para digressões, tudo tendo de ser rápido e econômico. No entanto, no grande autor em questão o mais importante é o psicológico, o que permite caminho para características marcantes do escritor, como intertextualidade, metalinguagem e até a digressão, entre tantas, tornando a leitura muito mais saborosa.

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CAPÍTULO DOS CHAPÉUS

video produzido pelos meus alunos do SEGUNDO ANO B do COLÉGIO CEI - de Icoaracy . Parabéns pelo video e por toda a produção e empenho de todos.







ESTUDO CRÍTICO DO TEXTO

Neste conto Machado de Assis discorre sobre um desejo reprimido que reaparece, deslocado, mas que perturba a jovem Mariana. Ela e Sofia, sua amiga, são as duas mulheres que representam os dois mundos que colidiam no Brasil da segunda metade do século XIX.

Em Capítulo dos Chapéus aparecem a frivolidade e ostentação da época de Machado de Assis.

Este interessante conto põe a nu a posição da mulher na nova sociedade que se forma no Brasil dessa segunda metade do século XIX, por meio de uma prosa irônica, mas que não deixa de revelar um tom trágico, por meio de uma tarde na vida da pacata Mariana.

A história do conto é simples: Mariana, “esposa do bacharel Conrado Seabra”, pede ao marido que troque o chapéu que costuma usar todos os dias. O marido, diante não de um pedido mas da teima da esposa, acha absurda sua atitude e responde-lhe ironicamente, humilhando-a. Conrado desconhece o fato de a solicitação de Mariana ter origem em uma colocação feita pelo pai dela: De noite, encontrando a filha sozinha, abriu-lhe o coração, pintou-lhe o chapéu mais baixo como a abominação das abominações e instou com ela para que o fizesse desterrar.

Humilhada, repleta de despeito, Mariana resolve espairecer, indo visitar uma amiga, Sofia – “alta, forte, muito senhora de si”. Num ato de fraqueza, confessa a Sofia o motivo de sua visita e a amiga a convence a irem juntas passear na Rua do Ouvidor. No entanto, o passeio revela-se perturbador e Mariana, angustiada, anseia por voltar para a segurança do seu lar. Ao chegar em casa, porém, o marido comprou um chapéu novo e Mariana, ainda assustada, pede-lhe que volte a usar o chapéu de sempre.

O conto é dominado pelas figuras de duas mulheres: Mariana e Sofia. Personalidades opostas, elas representam dois mundos diferentes, mas próximos entre si, presentes na nova configuração da realidade brasileira da segunda metade do século XIX. Mariana é a mulher infantilizada e alienada num ambiente doméstico; sua vida resume-se a casa e seus objetos: Móveis, cortinas, ornatos supriam-lhe os filhos; tinha-lhes um amor de mãe; e tal era a concordância da pessoa com o meio que ela saboreava os trastes na posição ocupada, as cortinas com as dobras do costume, e assim o resto. Sua caracterização evidencia o quanto está de acordo com os ideais de feminilidade de um mundo marcado pela figura do patriarca: era uma criatura passiva, meiga, de uma plasticidade de encomenda, capaz de usar com a mesma divina indiferença tanto um diadema régio como uma touca. Ou seja, é uma criatura feita de clichês que servem para reafirmar o oposto, a virilidade masculina. Sua vida estreita, concorda com suas leituras: Os hábitos mentais seguiam a mesma uniformidade. Mariana dispunha de mui poucas noções, e nunca lera senão os mesmos livros: a Moreninha, de Macedo, sete vezes; Ivanhoé e o Pirata, de Walter Scott, dez vezes; e Mot de l´enigme, de Madame Craven, onze vezes.

Em oposição à sua figura, há Sofia, uma mulher da nova sociedade: independente, resoluta, seus limites vão além da vida doméstica, estendendo-se para a rua: Sofia, prática daqueles mares, transpunha, rasgava ou contornava as gentes com muita perícia e tranqüilidade. Mais ainda, Sofia era honesta, mas namoradeira: o termo é cru e não há tempo de compor um mais brando. Namorava a torto e a direito, por necessidade natural, um costume de solteira. A relação das duas mulheres com os maridos segue esse caráter de oposição. Sofia domina o marido: Olhe eu cá vivo, muito bem com o meu Ricardo; temos muita harmonia. Não lhe peço coisa que ele não faça logo; mesmo quando não tem vontade nenhuma, basta que eu feche a cara, obedece logo. Não era ele que teimaria assim por causa de um chapéu! Pois não! Onde iria ele parar! Mudava de chapéu, quer quisesse, quer não.

Sofia possui certa consciência de seu desejo e aproveita-se do fato de ser objeto de desejo dos outros homens: sai para ser vista, seu olhar se desloca incessantemente para capturar o olhar do outro, numa postura ativa: Muitos eram os olhos que a fitavam quando ela ia à câmara, mas os do tal secretário tinham uma expressão mais especial, mais cálida e súplice. Entende-se, pois, que ela não o recebeu de supetão; pode mesmo entender-se que o procurou curiosa.

Sofia encarna o novo papel da mulher: a vida social é muito importante e o que vale é ver e ser vista.


ESTUDO CRÍTICO DO TEXTO II


“O Capítulo dos Chapéus”:
A pomba discutindo com o gavião.
Savio Passafaro Peres
Marina Massimi



Em “Capítulo dos Chapéus”, Machado volta a abordar a relação homem-meio sobre o prisma do temperamento. Neste conto, temos como protagonista Mariana, um exemplo de pusilanimidade, de desconhecimento de si, de falta de autonomia, de fraqueza da vontade, que muda conforme mudam as circunstâncias. Mesmo o seu “gosto estético” é tomado de “empréstimo”.
O conto inicia-se com Mariana pedindo ao seu marido, Conrado, para que ele troque de chapéu. Conrado surpreende-se com o pedido da mulher: “Conhecia a mulher, de ordinário, uma criatura passiva, meiga, de uma plasticidade de encomenda, capaz de usar com a mesma divina indiferença tanto um diadema régio como uma touca.” (“O Capítulo dos Chapéus”. Obra completa, 2004, vol. 2, p.402). Mas o narrador logo esclarece a razão do desgosto de Mariana pelo chapéu de seu marido: na noite anterior, o pai dela confessara-lhe, em segredo, que achava abominável o chapéu de seu genro. De todo modo, Conrado, sem conseguir compreender o porquê da repentina antipatia pelo seu chapéu, resolve dar a Mariana uma explicação sobre a dificuldade de trocá-lo:



- Olhe, iáiá, tenho uma razão filosófica para não fazer o que você me pede. Nunca lhe disse isto; mas já agora confio-lhe tudo.
Mariana mordia o lábio, sem dizer mais nada; pegou de uma faca, e entrou a bater com ela devagarinho para fazer alguma coisa; mas, nem isso mesmo consentiu o marido, que lhe tirou a faca delicadamente, e continuou:


A escolha do chapéu não é uma ação indiferente, como você pode supor; é regida por um princípio metafísico. Não cuide que quem compra um chapéu exerce uma ação voluntária e livre; a verdade é que obedece a um determinismo obscuro. A ilusão da liberdade existe arraigada nos compradores, e é mantida pelos chapeleiros que, ao verem um freguês ensaiar trinta ou quarenta chapéus, e sair sem comprar nenhum, imaginam que ele está procurando livremente uma combinação elegante. O princípio metafísico é este: - o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab eterno; ninguém o pode trocar sem mutilação. É uma questão profunda que nunca ocorreu a ninguém. [...] Quem sabe? pode ser até que nem mesmo o chapéu seja complemento do homem, mas o homem do chapéu... (Ibid., p.403).

Se continuarmos a leitura do conto, veremos o modo como Machado trabalha a dinâmica da frágil consciência de Mariana, sujeita a um “determinismo obscuro”. Isso já pode ser observado, no fragmento acima, em um pequeno ato de Mariana, que, após receber a resposta do marido sobre “suas razões metafísicas”, passa a bater involuntariamente a faca na mesa, “para fazer alguma coisa”. Acabada a discussão, Mariana, frustrada em seu pedido, passa a sentir ódio do chapéu de seu Marido, questionando-se sobre como pôde suportá-lo por tantos anos. É neste estado de espírito que ela vai à casa de sua amiga Sofia, “com o fim de espairecer, não de lhe contar nada” (Ibid., p.404). Sofia tem o temperamento oposto ao de Mariana: dominadora, namoradeira e voluntariosa, “muito senhora de si”. Embora não fosse sua intenção inicial, Mariana não resiste e desabafa o caso do chapéu com Sofia, que, logo em seguida, convence Mariana a dar um passeio com ela:

Um certo demônio soprava nela as fúrias da vingança. Demais, a amiga tinha o dom de fascinar, virtude de Bonaparte, e não lhe deu tempo de refletir. Pois sim, iria, estava cansada de viver cativa. Também queria gozar um pouco, etc.,etc... (Ibid.,, p.405.)
“Etc, etc”. Com que sutileza o narrador revela ao leitor a superficialidade das razões de Mariana! Estaria a mulher do Conrado cansada de viver cativa? Ou seria, no fundo, apenas o sopro passageiro do demônio da vingança? Em todo caso “parece que não deu tempo de refletir”. Ora, “De refletir o quê?”. A continuação do conto responde a pergunta. Se Mariana refletisse, ela talvez se desse conta que passear pela Rua do Ouvidor com a amiga namoradeira era uma atitude oposta ao seu temperamento: o “de uma criatura passiva e meiga”. Ora, veja-se a reação de Mariana durante o passeio: “A uniformidade e a placidez, que eram o fundo de seu caráter e sua vida, receberam daquela agitação os repelões do costume. Ela mal podia andar por entre os grupos, menos ainda sabia onde fixar os olhos, tal era a confusão das gentes, tal era a variedade das lojas”.(Ibid., p.406.)

Ao final do passeio, não ocorre vingança alguma, muito pelo contrário: Mariana se aborrece com tudo aquilo e volta ao lar. Com grande habilidade, o narrador vai mostrando como, gradativamente, a consciência de Mariana vai modificando a opinião sobre o chapéu de seu marido: “Achou que, bem pesadas as coisas, a principal culpa era dela. Que diabo de teima por um chapéu que o marido usava há tantos anos? Também o pai era exigente demais...”. (Ibid., p.410.) Ao fim do conto, o marido chega em casa, e, para a surpresa de Mariana, está com um chapéu novo. A moça, ao contrário daquilo que lhe pedira de manhã, pede para que ele tire o chapéu e coloque o antigo em seu lugar.

Onde está a liberdade? Qual a autonomia de Mariana? Mesmo as vontades e gostos dela são tomados de empréstimo: desgosta do chapéu de seu marido por causa da opinião do pai; e resolve passear pela Rua do Ouvidor sob a influência de Sofia. Esta sim é resoluta e decidida, “muito senhora de si”, “qualidade” essa que Mariana tenta inclusive como que tomar para si: “A rebelião de Eva evocava nela os clarins; e o contato da amiga dava um prurido de independência e vontade.” (Ibid., p.404.) Em outra passagem deste mesmo conto, podemos observar mais uma vez a diferença de temperamento entre as duas mulheres, quando Mariana tenta impor sua vontade à Sofia: “Mariana teimou ainda mais um pouco; mas teimar contra Sofia, - a pomba discutindo com o gavião, - era realmente insensatez”. (Ibid., p.408.) “Pomba” e “Gavião” fazem sentir a presença deste algo de natural no ser humano: o temperamento, idéia essa que acompanha Machado durante várias de suas obras. Bentinho de Dom Casmurro é quase que um fantoche nas mãos das outras personagens do romance. Sua mãe o usa para pagar sua promessa; Capitu, para ascensão social por meio do matrimônio, (uma das únicas formas de uma mulher obter ascensão social naquele tempo); e o agregado José Dias, para manter sua posição de agregado. Capitu, por outro lado, é quase o oposto de Bentinho, usa de todos os artifícios para conseguir seu objetivo, o matrimônio. O jogo de temperamentos e de caracteres encontra-se também no romance Quincas Borba (1891), cujo protagonista, Rubião, é manipulado por Palha, Sofia, e mais uma corja de parasitas.

13 comentários:

  1. excelente esse resumo... !
    aprendi mais sobre o capitulo do chapeus, o qual terei que explicar sexta-feira :S

    obriigadah !

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  2. thiago,conceição do araguaia-pa

    vou presta vestibular, esse seu blog está me ajudando muito,muito bom, professor eu tenho uma duvida sobre a sustificativa do Conrado de não tira o chapéu.

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  3. muito bom esse resumo, so tenho duvida, se mariana decidiu que o marido usa-se o chapeu antigo, pelo fato dela se sentir culpada por ter saido de sua rotina,e se sentido ter traido o marido ao ver seu 1ºnamorado, ou por ela ver que o homem com chapeu longo ser mais elegante, e ver que sofia se sentia atraida por ele, ''ciume talves'' ?

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  4. Muito bom prof. Seus resumos Obrigado.....

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  5. EXCELENTE ESSE RESUMO, ADOREI

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  6. Muito obrigado por postar esse conto tão interessante. Precisarei muito dele na minha prova amanhã. Também acharia interessante comparar Sofia e Mariana com o Realismo e Romantismo.

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  7. Excelente esse resumo, parabéns, continue nos ajudando dessa maneira.........

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  8. Resumo perfeito! peça muito boa. Parabéns.
    me impressionou!

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  9. muitissimo bom =D
    valeu professor!!!!!

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  10. Prof. Gil Mattos, obrigada pelas leituras do vestibular.

    Gisely

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