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domingo, 3 de outubro de 2010

UFRA - CINCO MINUTOS

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Cinco Minutos, assim como A Viuvinha, foram escritos no início da carreira do autor. Assim como os outros romances caracterizados pelo romantismo ingênuo de Alencar, esses dois não fogem à regra, são feitos aos moldes de folhetim, curtos, quase infantis. Têm como pano de fundo o Rio de Janeiro. Cinco Minutos faz parte da fase urbana do escritor. Nesse jornal aconteceu sua estréia como romancista: em 1856 saíram em folhetins o romance Cinco minutos. Ao final de alguns meses, completada a publicação, juntaram-se os capítulos em um único volume que foi oferecido como brinde aos assinantes do jornal. No entanto, muitas pessoas que não eram assinantes do jornal procuraram comprar a brochura. Alencar comentaria: '' foi à única muda, mas real animação que recebeu essa primeira prova. Tinha leitores espontâneos, não iludidos por falsos anúncios''. Nas entrelinhas, percebe-se a queixa que se tornaria obsessiva ao longo dos anos: a de que a crítica atribuía pouca importância a sua obra.
Cinco Minutos conta a história do casamento do narrador com Carlota. No entanto, para o leitor, parece que está escutando uma história que não é para ele, já que Alencar dirige seu texto a uma prima. O leitor aqui é uma terceira pessoa, um "voyeur" que fica entre José de Alencar e sua prima. Ao mesmo tempo em que tenta levar o leitor a pensar que tudo é imaginário e faz parte das fantasias do autor, José de Alencar faz questão de narrar fatos verídicos da época, acontecimentos reais que marcaram o Rio de Janeiro no início do século. É tão minucioso nesse aspecto que até narra datas e horários etc. Atualmente as histórias do autor romântico passam como que quase infantis e ingênuas para o leitor moderno. São narrações em que o amor sempre vence decisões passionais de amantes, amor e amor e amor. À época, os folhetins eram lidos pelas senhoras burgueses. Exagerando-se um pouco na dose, poderíamos dizer que Alencar lembra remotamente, os livrinhos que embalam os sonhos de moças solteiras, no entanto não se pode deixar de dizer que sua escrita, linguagem, e modo estilístico são de extrema qualidade. Foi Alencar quem dissociou-se do modelo português da escrita para definitivamente inaugurar o texto nosso, brasileiro.
Os livros Cinco Minutos e A Viuvinha falam sobre a vida burguesa. Suas personagens são personagens que, no fundo, representam o ideal acabado da vida burguesa, tropicalmente reproduzida na Corte brasileira. Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está disponível, da primeira à última página, para satisfazer a todos os caprichos de sua imaginação. Sem compromisso profissional algum, o aspecto financeiro de suas peregrinações atrás de Carlota não chega jamais a preocupá-lo.
Obs.: Temos um narrador-personagem, que não pode ser confundido com José de Alencar, o autor da obra, pois a narrativa não tem nada a ver com vida pessoal.

Síntese da Narrativa
Publicado pela primeira vez em 1856, por meio de folhetins no Jornal Diário do Rio de Janeiro, Cinco Minutos é um romance que apresenta dez capítulos. Narrado em primeira pessoa, o romance tem sua origem em uma pergunta, revelada apenas em seu final:
Eis, minha prima, a resposta à sua pergunta; eis por que esse moço elegante, como teve a bondade de chamar-me, fez-se provinciano e retirou-se da sociedade, depois de ter passado um ano na Europa.
A resposta dada a sua prima, chamada apenas de Dona... (A D...), desenvolve-se por meio de uma carta, em que o narrador personagem relata os curiosos fatos que lhe fizeram abandonar a badalada sociedade carioca do séc. XIX.

Enredo
Capitulo I
O narrador dirige-se a sua prima, citada como “D” que sente a ausência do Primo na corte, pois o mesmo era sempre requisitado e disputado pelas moças da sociedade. O narrador afirma que vai narrar “uma história e não um romance”. O narrador tem como hábito não se preocupar com o tempo, pois não é uma máquina. Dirigiu-se ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí. Lá soube através do funcionário, que o mesmo havia partido há cinco “minutos”. Por isso teve que esperar o ônibus das sete. Quando este chegou, escolheu seu lugar de praxe, mas estava ocupado. Então foi para o fundo do ônibus, e sentou-se ao lado de uma mulher vestida de seda preta.
A partir daí ocorre uma atmosfera fascinante, onde o narrador – personagem tenta ver o rosto daquela mulher misteriosa, que se escondiam “nas nuvens de seda e de rendas”, mas nada consegue, desiste e começa a divagar, quando percebe o braço dela roçando no seu.
Achou o acontecido muito estranho, porém tudo poderia passar de um simples flerte desinteressado. Chegou a supor que a mulher fosse feia e velha, que tentava namorar ocultada pela escuridão. 
“De repente veio-me uma idéia”. Se fosse feia! Se fosse velha! Se fosse uma e outra coisa!
   Fiquei frio e comecei a refletir.                           
   Esta mulher, que sem me conhecer me permitia o que só se permite ao homem que se ama, não podia deixar com efeito de ser feia e muito feia.                                  
   Não lhe sendo fácil achar um namorado de dia, ao menos agarrava‑se a este, que de noite e às cegas lhe proporcionara o acaso. “
Mas ao sentir o aroma de sândalo, confiou em sua intuição: era bela.
  “Por que é que Deus deu o aroma mais delicado à rosa, ao heliotrópio, à violeta, ao jasmim, e não a essas flores sem graça e sem beleza, que só servem para realçar as suas irmãs”?
   “É decerto por esta mesma razão que Deus só dá à mulher linda esse tato delicado e sutil, esse gosto apurado, que sabe distinguir o aroma mais perfeito...”.
  “Assim, fascinado ao mesmo tempo pela minha ilusão e por este contato voluptuoso, esqueci-me, a ponto que, sem saber o que fazia, inclinei a cabeça e colei os meus lábios ardentes nesse ombro, que estremecia de emoção”.
   Ela soltou um grito, que foi tomado naturalmente como susto causado pelos solavancos do ônibus, e refugiou‑se no canto.                                                           
   Meio arrependido do que tinha feito, voltei‑me como para olhar pela portinhola do carro, e, aproximando‑me dela, disse‑‑lhe quase ao ouvido:
   ‑‑ Perdão!                                                   
   Não respondeu; conchegou‑se ainda mais ao canto.          
   Tomei uma resolução heróica.                               
   ‑‑ Vou descer, não a incomodarei mais.  “
No entanto a mulher de véu desceu do ônibus acompanhada de uma senhora, antes, porém disse a ele uma frase que iria perseguir a autor por toda história: non ti scordar di me (da ópera O Trovador de Verdi, então nos palcos cariocas).
Lancei-me fora do ônibus; caminhei à direita e à esquerda; andei como um louco até nove horas da noite. Nada!

Capitulo II
Após este acontecimento, durante quinze dias o narrador apaixonado, andou no ônibus das sete horas à Andaraí, mas não a encontrou. Finalmente, consegue saber alguma coisa sobre ela: foi a um baile, olhou para muitas mulheres, mas em nenhuma delas viu algo que lhe chamasse a atenção. De repente, alguém passou ao seu lado e com um leve toque de um leque em seu braço, ouviu uma voz murmurar “Non ti scordar di me!
Como estava desatento, procurou pelo salão ver quem lhe tinha falado, mas em vão. Foi quando ouviu uma velha simpática falando e percebeu a semelhança entre a voz dela e de sua misteriosa amada. Supôs que tivesse todo esse tempo a procura de uma velha namoradeira.
“Será ela, meu Deus”? Pensei horrorizado
   E, por mais que fizesse os meus olhos não se podiam destacar daquele rosto cheio de rugas.                      
   A velha tinha uma expressão de bondade e de sentimento que devia atrair a simpatia; mas naquele momento essa beleza moral, que iluminava aquela fisionomia inteligente, pareceu‑me horrível e até repugnante.                           
   Amar quinze dias uma sombra, sonhá‑la bela como um anjo, e por fim encontrar uma velha de cabelos brancos, uma velha coquette e namoradeira!”“



Ao atentar para o a velha dizia a um cavalheiro, ficou sabendo que ela tinha uma filha. Essa foi a primeira pista. Passou a perseguir a velha até ela encontrar-se com sua filha, porém ambas foram embora sem que ele visse o rosto de sua suposta amada.
O outro reencontro foi mais definitivo: como a expressão “Non ti scordar di me!” fazia parte de uma ária de “IL Trovatore”, de verdi. Supôs que sua amada tivesse um gosto refinado e fosse a opera. Foi no teatro que a viu pela terceira vez, comprou um camarote ao lado do dela e tentou lhe falar. “Arrastei as cadeiras do camarote, tossi, deixei cair o binóculo, fiz um barulho insuportável, para ver se ela voltava o rosto. A platéia pediu silêncio; todos os olhos procuraram conhecer a causa do rumor; porém ela não se moveu; com a cabeça meio inclinada sobre a coluna, em uma lânguida inflexão, parecia toda entregue ao encanto da música.Tomei um partido.
Encostei-me à mesma coluna e, em voz baixa, balbuciei estas palavras:
- Não me esqueço!
Estremeceu e, baixando rapidamente o véu, conchegou ainda mais o largo burnous de cetim branco.
Cuidei que ia voltar-se, mas enganei-me ; esperei muito
tempo, e debalde. Tive então um movimento de despeito e quase de raiva; depois de um mês que eu amava sem esperança, que eu guardava a maior fidelidade à sua sombra, ela me recebia friamente.
Revoltei-me.”
Foi então que ele começou a falar uma série de impropérios a ela, acusando-a de tê-lo seduzido, para ficar escarnecendo do sofrimento dele junto com as amigas. Ela finge que não o escuta. Ao término da peça, ela entregou-lhe um lenço com a essência sândalo todo molhado de lágrimas, dizendo que ele nunca saberá o motivo pelo qual ela sofre.

Capitulo III
O terceiro capítulo começou com uma carta, a primeira que a misteriosa mulher enviou ao narrador. Sabia que era dela porque era assinada com a mesma inicial que estava no lenço: “C”. Esta carta revelou ao narrador que sua misteriosa amada o amava, mas que ele deveria esquecê-la.
Havia uma fatalidade, algo misterioso, por trás da decisão de sua amada, decisão definitiva que encerrava uma grande rejeição.
   “Julga mal de mim, meu amigo; nenhuma mulher pode escarnecer de um nobre coração como o seu”.
   “Se me oculto, se fujo, é porque há uma fatalidade que a isto me obriga”. E só Deus sabe quanto me custa este sacrifício, porque o amo!
   “Mas não devo ser egoísta e trocar sua felicidade por um amor desgraçado”.
   “Esqueça-me”.
Frustrado, resolveu viajar para a Tijuca a fim de esquecer à amada, passou dez dias caçando, jogando, dormindo. Cansado e triste, justamente no décimo dia, resolveu voltar a sua casa e encontrou outra carta.
Meu amigo.
Sinto-me com coragem de sacrificar o meu amor à sua felicidade; mas ao menos deixe-me o consolo de amá-lo.
Há dois dias que espero debalde vê-lo passar e acompanhá-lo de longe com um olhar! Não me queixo; não sabe nem deve saber em que ponto de seu caminho o som de seus passos faz palpitar um coração amigo.
Parto hoje para Petrópolis, donde voltarei breve; não lhe peço que me acompanhe, porque devo ser-lhe sempre uma desconhecida, uma sombra escura que passou um dia pelos sonhos dourados de sua vida.
Entretanto eu desejava vê-lo ainda uma vez, apertar a sua mão e dizer-lhe adeus para sempre.

C”
A carta dizia que ela sentia coragem de sacrificar o amor que sentia pela felicidade dele, mas que queria continuar amando-o. Que fazia dois dias que ela esperava vê-lo, mas que havia sido em vão, e que ela havia partido para Petrópolis no dia em que escrevera a carta:
A carta tinha a data de 3; nós estávamos a 10; havia oito dias que ela partira para Petrópolis e que me esperava. No dia seguinte embarquei na Prainha e fiz essa viagem da baía, tão pitoresca, tão agradável e ainda tão pouco apreciada.
 Na amanhã seguinte partiu para Petrópolis, já no hotel, informado sobre as famílias recém-chegada ao local, pediu a um empregado que o levasse até a casa da moça que procurava, o criado assim o fez, mediante um pagamento.

Capítulo IV
                Ao chegar ao local, ele se aproximou da casa de sua amada e ouviu um piano, então o jovem cantou uma musica de Verdi ao que a moça respondeu no mesmo tom... “non ti scordar di me”. Ele ficou tão emocionado que pulou a grade e invadiu o jardim. Mas a canção acabou e a luz da sala escureceu. Parecia que a casa toda já estava dormindo. Ele sentou-se em uma pedra e esperou ali, na escuridão e no silêncio. Iria passar a noite ali, quando a porta da sala abriu-se. Juntos, trocaram palavras de amor, embora à moça tratasse com tristeza o assunto.
Eu sabia que sempre havias de vir, disse‑me ela.      
   ‑‑ Oh! Não me culpes! Se soubesses!                      
   ‑‑ Eu culpar‑te? Quando mesmo não viesses, não tinha o direito de queixar‑me.
   ‑‑ Por que não me amas!                                  
   ‑‑ Pensas isto? Disse‑me com uma voz cheia de lágrimas.
   ‑‑ Não! Não!... Perdoa!...”“
(...)
 ““... Mas então por que esse mistério?
   ‑‑ Esse mistério, bem sabes, não é uma coisa criada por.
Mim e sim pelo acaso; se o conservo, é porque, meu amigo..., tu não me deves amar.                                               
   ‑‑ Não te devo amar! Mas eu amo‑te!...                   
   Ela recostou a cabeça ao meu ombro e eu senti uma lágrima cair sobre meu seio...”.
(...)
“... ‑‑ Escuta meu amigo; falemos seriamente. Tu dizes que me amas; eu o creio, eu o sabia antes mesmo que me dissesses. As almas como as nossas quando se encontram se reconhecem e se compreendem. Mas ainda é tempo; não julgas que mais vale conservar uma doce recordação do que entregar‑‑se a um amor sem esperança e sem futuro?...”.
— Não, mil vezes não! Não entendo o que queres dizer; o meu amor, o meu, não precisa de futuro e de esperança, porque o tem em si, porque viverá sempre!...
— Eis o que eu temia; e, entretanto, eu sabia que assim havia de acontecer; quando se tem a tua alma, ama-se uma só vez.
     Mas havia algo que fazia que ela não se entregasse a ele, pois temia sua morte e faria o seu amado ficar sozinho e sofrendo de solidão. Sua voz que era tão doce e aveludada, parecia alquebrada pelo cansaço da respiração, de repente um acesso de tosse.

Capítulo V
Neste capítulo após um a profunda conversa do enamorados, ele convence que é melhor amar do que esquecer.
“...Não pensas que melhor é esquecer do que amar assim?
— Não! Amar, sentir-se amado, é sempre um gozo imenso e um grande consolo para a desgraça. O que é triste, o que é cruel, não é essa viuvez da alma separada de sua irmã, não; aí há um sentimento que vive, apesar da morte, apesar do tempo. É, sim, esse vácuo do coração que não tem uma afeição no mundo e que passa como um estranho por entre os prazeres que o cercam.
— Que santo amor, meu Deus! Era assim que eu sonhava ser amada!...
— E me pedias que te esquecesse!...
— Não! não! Ama-me; quero que me ames ao menos...
— Não me fugirás mais?
— Não.
— E me deixarás ver aquela que eu amo e que não conheço? perguntei, sorrindo.
— Desejas?
— Suplico-te!
— Não sou eu tua?... Lancei-me para a saleta onde havia luz e coloquei o lampião sobre a mesa do gabinete em que estávamos. Para mim, minha prima, era um momento solene; toda essa paixão violenta, incompreensível, todo esse amor ardente por um vulto de mulher, ia depender talvez de um olhar...”
Ela era realmente bela, em seguida o narrador conta que sentiu os lábios dela em beijo. Mas foi apenas um beijo, na despedida, provalmente na testa... Por fim tomou-me a cabeça entre as mãos e seus lábios fecharam-me os olhos com um beijo.
Então o autor retorna para seu hotel, feliz e intrigado com Carlota, mas prefere apenas lembrar do seu doce beijo. No outro dia após retornar de um breve passeio, recebe uma carta de sua amada e o retrato dela.

Capítulo VI
Na carta, narra tudo que passou, antes do seu primeiro encontro, como já o amava e explica todo o seu sofrimento e como adquiriu a doença.Conta que durante a infância foi enclausurada pela mãe, para que a vida fosse revelada e bem vivida durante a mocidade. Disse que estava com dezesseis anos quando se apaixonou por ele, em um baile.
   “... Compreendi‑te e, durante muito tempo, segui‑te com os olhos; ainda hoje me lembro dos teus menores gestos, da expressão do teu rosto e do sorriso de fina ironia que às vezes fugia‑te pelos lábios...”.
(...)
  “... Ao sair de um desses bailes, apanhei uma pequena constipação, de que não fiz caso. Minha mãe teimava que eu estava doente, e eu achava‑me apenas um pouco pálida e sentia às vezes um ligeiro calafrio, que eu curava, sentando‑me ao piano.
E tocando alguma música de bravura.                             
   "Um dia, porém, achei‑me mais abatida; tinha as mãos e os lábios ardentes, a respiração era difícil, e ao menor esforço umedecia‑se‑me a pele com uma transpiração que me parecia gelada.
   "Atirei‑me sobre um sofá e, com a cabeça recostada ao colo de minha mãe, caí em um letargo que não sei quanto tempo durou. Lembro‑me somente que, no momento mesmo.
Em que ia despertando dessa sonolência que se apoderara de mim, vi minha mãe, sentada à cabeceira de meu leito, chorando, e um homem dizia‑lhe algumas palavras de consolo, que eu ouvi como em sonho:
   "‑‑ Não desespere minha senhora; a ciência não é infalível, nem os meus diagnósticos são sentenças irrevogáveis.
Pode ser que a natureza e as viagens a salvem. Mas é preciso não perder tempo.                                               
Mas, a carta também revela o mistério que ela escondia. Acredita estar desenganada, pois ouvira, por alto, uma conversa entre um médico, Dr. Valadão, e sua mãe. Tudo levava a crer que fosse verdade, pois havia pegado uma gripe que não tratara com cuidado. Tossia muito.
Ela continua o relato:
   "Foi nesta ocasião que te encontrei no ônibus de Andaraí;
Quando entravas, a luz do lampião iluminou‑te o rosto e eu te reconheci.                                                    
   "Faze idéia que emoção sentira quando te sentaste junto de mim...”.
   “... Eu te amava; mas, já que Deus não me tinha concedido a.
Graça de ser tua companheira neste mundo, não devia ir roubar ao teu lado e no teu coração o lugar que outra mais feliz, porém menos dedicada, teria de ocupar.                           
   "Continuei a amar‑te, mas impus‑me a mim mesma o sacrifício de nunca ser amada, por ti.
   "Vês, meu amigo, que não era egoísta e preferia a tua à minha felicidade. Tu farias o mesmo, estou certa....”
E finaliza a carta, fazendo um pedido ao amado:
   “... Entretanto, meu amigo, se, como tu dizias ontem, a felicidade é amar e sentir‑se amado; se te achas com forças de partilhar essa curta existência, esses poucos dias que me restam a passar sobre a terra, se me queres dar esse consolo supremo, único que ainda embelezaria minha vida, vem!...”.
Este capítulo se encerra com uma reflexão do narrador a respeito do amor que Calota tinha por ele. Aí esta o motivo de sua contenção.
Temia morrer e deixa seu amado sofrendo de solidão.
Observa-se que esta carta funciona como um flashback, pois ocorre nela um retorno ao passado com o intuito de explicar fatos no presente.

Capítulo VII
Leitura da segunda página, agora assinada, na qual Carlota revela seu calvário. O afeto e cuidado de sua mãe foram elementos primordiais na recuperação da moça:
Logo no dia seguinte fomos para Andaraí, onde ela alugara uma chácara, e aí, graças a seus cuidados, adquiri tanta saúde, tanta força, que me julgaria boa se não fosse a sentença fatal que pesava sobre mim.
Que tesouro de sentimento e de delicadeza que é um coração de mãe, meu amigo! Que tato delicado, que sensibilidade apurada, possui esse amor sublime!
Nos primeiros dias, quando ainda estava muito abatida e era obrigada a agasalhar-me, se visses como ela pressentia as rajadas de um vento frio antes que ele agitasse os renovos dos cedros do jardim, como adivinhava a menor neblina antes que a primeira gota umedecesse a laje do nosso terraço!
Conta também sobre o fato de estar apaixonada por ele. diz que quando se aproximou dele pela primeira vez, no ônibus, estava sendo tratada de sua enfermidade e já possuía um sentimento reservado, que fazia com que ela lhe visse, todos os dias, passando em frente a sua casa:
Aqui é preciso dizer-te que no dia seguinte ao do nosso
primeiro encontro, tínhamos voltado à cidade, e eu te via passar todos os dias diante de minha janela, quando fazias o teu passeio costumado à Glória.
Por detrás das cortinas, seguia-te com o olhar, até que
desaparecias no fim da rua, e este prazer, rápido como era, alimentava o meu amor, habituado a viver de tão pouco.
Diz ainda a carta que ela havia deixado Petrópolis. Ela o convida para que ele a siga, mas deixa claro que ele deve decidir com prudência.

Capítulo VIII
Após uma grande divagação a respeito da abnegação de Calota e de uma maneira de retribuir-lhe a dedicação, o personagem-narrador fez de tudo para chegar ao porto antes que ela embarcasse para o Rio de Janeiro. Para isso, tinha exatamente uma hora:
Aí encontrei o criado da véspera.
— A que horas parte a barca da Estrela?
— Ao meio-dia.
Eram onze horas; no espaço de uma hora eu faria as quatro léguas que me separavam daquele porto.
Lancei os olhos em torno de mim com uma espécie de
desvario. Não tinha um trono, como Ricardo III, para oferecer em troca de um cavalo; mas tinha a realeza do nosso século, tinha dinheiro.
A dois passos da porta do hotel estava um cavalo, que o seu dono tinha pela rédea. Comprou o cavalo. Forçou tanto a resistência do animal que alguns passos perto da praia, o cavalo morreu. Por minutos chegou atrasado.
Ficou vendo desaparecer no mar a barca, que levava sua amada. Mas não desistiu. Viu um pescador que guardava seu barco e o convenceu a levá-lo. Adivinhe o argumento usado...
Ora diga-me! Se houvesse um meio de fazer-lhe ganhar em um só dia o que pode ganhar em um mês, não enjeitaria decerto?
— Isto é coisa que se pergunte?
— Quando mesmo fosse preciso embarcar depois de passar uma noite em claro no mar?
— inda que devesse remar três dias com três noites, sem dormir nem comer.
— Nesse caso, meu amigo, prepare-se, que vai ganhar o seu mês de pescaria; leve-me à cidade.
— Ah! isto já é outro falar ; por que não disse logo?...
O capítulo termina quando o personagem-narrador embarca com o velho pescador rumo ao Rio de Janeiro, depois de esperá-lo, por duas horas o velório do cavalo, pois o narrador-personagem fez alguém enterrá-lo.

Capítulo IX
Em alto-mar, o velho pescador está nitidamente cansado e já não remava com o vigor inicial. O personagem narrador, ansioso por chegar, resolveu fazer um banquete em plena baía. Ele dá ao velho uma garrafa de vinho do porto e este bebe. Já é alta noite quando o jovem adormece, vendo as braçadas agora revitalizadas do velho pescador.
Mas ao acordar, deparou-se com seu remador dormindo, ele havia sido vencido pelo cansaço. Passaram o dia inteiro, à deriva, até que o velho atirou-se na água com uma corda atada em si e no barco. O velho conseguiu rebocar o barco à nado, até uma praia, onde recebeu a ajuda de um outro pescador e novos remos.
A cada movimento de impaciência que eu fazia, os dois pescadores dobravam-se sobre os remos e a canoa voava. Assim nos aproximamos da cidade, passamos entre os navios, e nos dirigimos à Glória, onde pretendia desembarcar, para ficar mais próximo de sua casa.
Em um segundo tinha tomado a minha resolução; chegar, vê-la, dizer-lhe que a seguia, e embarcar-me nesse mesmo paquete em que ela ia partir.
Não sabia que horas eram; mas há pouco havia amanhecido; tinha tempo para tudo, tanto mais que eu só precisava de uma hora.
Um crédito sobre Londres e a minha mala de viagem eram todos os meus preparativos; podia acompanhá-la ao fim do mundo. Já via tudo cor-de-rosa, sorria à minha ventura e gozava da alegre surpresa que ia causar-lhe, a ela que já não me esperava.
Porém depara-se com o fato de a embarcação esta partindo, e novamente atrasado vê próximo de si, sua amada partindo, os dois acenam em despedida, certos de que brevemente estariam juntos.

Capítulo X
Um mês depois, após uma longa espera ansiosa, o narrador personagem embarca para Europa. Em cada porto que desembarcava, guiado pelo instinto, ele ia ao correio e encontrava uma carta dela. Por fim, chegou a Europa, e a encontrou abatida. Mas o grande drama vivido por eles, ocorreu em Nápoles:
Ela abriu os olhos um momento e quis sorrir ; seus lábios nem tinham força para desfolhar o sorriso.
As lágrimas saltaram-me dos olhos; havia muito que eu tinha perdido a fé, mas conservava ainda a esperança; esta desvaneceuse com aquele reflexo do ocaso, que me parecia o seu adeus à vida.
Sentindo as minhas lágrimas molharem as suas mãos, que eu beijava, ela voltou-se e fixou-me com os seus grandes olhos lânguidos.
Depois, fazendo um esforço, reclinou-se para mim e apoiou as mãos sobre o meu ombro.
— Meu amigo, disse ela com voz débil, vou pedir-te uma coisa, a última; tu me prometes cumprir?
— Juro, respondi-lhe eu, com a voz cortada pelos soluços.
— Daqui a bem pouco tempo... daqui a algumas horas talvez...
Sim! sinto faltar-me o ar!...
— Carlota!...
— Sofres, meu amigo! Ah! se não fosse isto eu morreria feliz.
— Não fales em morrer!
— Pobre amigo, em que deverei falar então? Na vida?...
Mas não vês que a minha vida é apenas um sopro... um instante
que breve terá passado?
— Tu te iludes, minha Carlota.
Ela sorriu tristemente.
— Escuta; quando sentires a minha mão gelada, quando as
palpitações do meu coração cessarem, prometes receber nos lábios
a minha alma?
— Meu Deus!...
— Prometes? sim?...
— Sim.
Ela tornou-se lívida; sua voz suspirou apenas:
— Agora!
Apertei-a ao peito e colei os meus lábios aos seus. Era o primeiro beijo de nosso amor, beijo casto e puro, que a morte ia santificar.
Sua fronte se tinha gelado, não sentia a sua respiração nem as pulsações de seu seio.
De repente ela ergueu a cabeça. Se visse, minha prima, que reflexo de felicidade e alegria iluminava nesse momento o seu rosto pálido!
— Oh! quero viver! exclamou ela.
E com os lábios entreabertos aspirou com delícia a aura impregnada de perfumes que nos enviava o golfo de Ischia.
Desde esse dia foi pouco a pouco restabelecendo-se, ganhando as forças e a saúde; sua beleza. reanimava-se e expandia-se como um botão que por muito tempo privado de sol, se abre em flor viçosa.


O Beijo milagroso e o Final Feliz
Para Calota, foi o amor do personagem-narrador que a salvou, que lhe deu vida, mas um médico diz que foram as viagens. Eles casaram-se em Florença e viajaram pela Europa e oriente. Ao chegar no Brasil, construíram uma casa em um retiro, longe da sociedade e viveram felizes para sempre... nem tanto.
Assim, minha prima, como parece que neste mundo não pode haver um amor sem o seu receio e a sua inquietação, nós não estamos isentos dessa fraqueza. Ela tem ciúmes de meus livros, como eu tenho de suas flores. Ela diz que a esqueço para trabalhar; eu queixo-me de que ela ama as suas violetas mais do que a mim Isto dura quando muito um dia; depois vem sentar-se ao meu lado e dizer-me ao ouvido a primeira palavra que balbuciou o nosso amor: - Non ti scordar di me.
(...)
“... tudo isto sucedeu porque me atrasei cinco minutos.
   Desta pequena causa, desse grão de areia, nasceu a minha felicidade; dele podia resultar a minha desgraça. Se tivesse sido pontual como um inglês...”.
(...)
“Isto prova que a pontualidade é uma excelente virtude para uma máquina; mas um grave defeito para um homem...”.
(...)
Olhamo-nos, sorrimos e recomeçamos esta história que lhe acabo de contar e que é ao mesmo tempo o nosso romance, o nosso drama e o nosso poema.
Contado sob a forma de uma carta do jovem à sua prima, este livro é um exemplo clássico do Romantismo ao mostrar um amor puro, casto, duradouro e curativo, sentido por duas almas gêmeas perfeitas, com o destino interpondo-se no caminho e resolvendo-se no final.

Elementos da Narrativa:
Tema : A luta por um amor “Impossível”. A história centraliza o amor de Carlota e o narrador, porém aborda também o trabalho escravo, a importância pelo dinheiro e a posição social.

Tempo: Cronológico. A história acontece no século XIX.

Espaço: A cidade do Rio de Janeiro. (Petrópolis, Europa e Minas Gerais). Porém os encontros decisivos do casal passam no Rio de Janeiro)

Foco Narrativo: É feito em primeira pessoa, o narrador participa do mesmo como protagonista. Entretanto em alguns momentos, nas transcrições das cartas, temos a voz feminina.

Personagens
·         Narrador personagem : não tem nome citado na obra. Um personagem movido pelo sentimento, um herói romântico, um jovem determinado e audaz. Algumas passagens da narrativa permitem afirmar que ele é um jovem burguês, que abre mão de sua vida rotineira e procura encontrar seu grande amor a qualquer custo. “Não tinha um trono, como Ricardo III, para oferecer em troca de um cavalo; mas tinha a realeza do nosso século, tinha dinheiro.
·         Carlota: uma mulher enigmática, que instiga a curiosidade do narrador. “““.” Amar quinze dias uma sombra, sonhá-la bela como um anjo” No inicio não revela o seu rosto. Esse mistério mostra o perfil da mulher idealizada.” Com efeito, uma mulher de distinção, uma mulher de alma elevada, se fosse feia, não dava sua mão a beijar a um homem que podia repeli-la quando a conhecesse; não se expunha ao escárnio e ao desprezo. Era bela! Mas não a podia ver, por mais esforços que fizesse”. O heroísmo da personagem é abordado na atitude de abdicar de seu grande amor, preferindo ficar sozinha e não fazer o seu amado sofrer. Deve ser uma moça requintada, pois freqüentava o ambiente da corte os bailes e viajava com certa facilidade para todos os cantos, inclusive a Europa.
·         Mãe de Carlota: Companheira da filha luta com todas as forças por Carlota. Quando está na Europa, com a jovem, julga que o narrador não iria atrás dela.
·         Pescador: muito importante na trama, pois ele e o narrador passam por uma grande dificuldade quando estão em alto mar. Tem uma atitude heróica ao puxar a canoa presa por uma corda que segurava com a boca, em busca de ajuda.

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